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segunda-feira, 27 de junho de 2011
27 de junho de 2011 | N° 16742
PAULO SANT’ANA
40 anos, uma vida!
E assim vou levando a minha vida. Não é grande coisa, mas é a minha vida.
Não adianta a gente se comparar aos outros, tudo o que só interessa é a vida da gente.
Às vezes, eu me descontento com a minha vida. Pensando melhor sobre os grandes momentos da minha vida, até que sou ingrato ao queixar-me.
Tive filhos, tive mulheres, tive netos, tive a minha profissão, que acabei honrando e na qual fui reconhecido.
Fiz muito bons amigos, colhi poucos inimigos. Não foi uma vidinha, foi uma passagem impactante, melhor do que poderia esperar o meu talento.
O que importa é que é a minha vida. Deus nos joga na Terra e nos manda fazer a vida.
Então, a gente se encaixa num espaço próprio e vai lutando.
Minha vida, vejo agora, foi repleta de realizações e de frustrações.
Mas não há nada que não atingi que tivesse esperado atingir. E, das coisas que não esperava atingir, esta doença foi a menos esperada e a mais perversa.
É que eu, como todas as pessoas, não contava com este estado da vida que nos põe em clara desvantagem: a velhice.
Por ela, lamentamos que não fizemos os exercícios físicos que nos preparassem para o inverno da existência, martela a nossa consciência que tivéssemos escolhido o tabagismo como entretenimento e lenitivo da batalha da vida.
Então, a vida também é lugar para arrependimentos, para remorsos sobre as nossas escolhas, tínhamos que ter procedido assim em determinadas encruzilhadas, de outro jeito em outras ocasiões.
Bobagem, o que foi não mais será. E o que será nunca virá como já veio.
O importante é que estou vivo e me encho ainda de esperança. O importante é que nesta estreita faixa que me restou da existência ainda há lugar para a esperança. Tanto mais possível quanto se tornaram menores e menos ambiciosos meus sonhos.
À medida que o tempo foi passando, foram tão grandes as realizações e tão fortes as trombadas, que foram se reduzindo os desejos e hoje a esperança é menos tênue porque ainda pode satisfazer as agora raras aspirações.
É a minha vida. E eu só peço que consiga reunir forças para que hoje no início da noite eu possa estar de pé, vencendo a tontura permanente e os efeitos drásticos da radioterapia, para receber a homenagem que bondosamente me prepararam os que organizaram a festa dos 40 anos do Sala de Redação no Teatro Bourbon.
Eu tenho de reunir forças para estar lá. Porque a homenagem que me querem fazer é merecida.
O Sala de Redação é um fato importante das nossas vidas.
E é imprescindível homenagear e ser homenageado pela vida.
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