Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 14 de junho de 2011
14 de junho de 2011 | N° 16729
CLÁUDIO MORENO
Falando francamente
Franqueza e sinceridade eram os princípios básicos da famosa (e curtíssima) democracia ateniense: para o bem de todos, o cidadão deveria expressar, com destemor, sua opinião e suas críticas sobre a forma como o governo estava conduzindo os assuntos da comunidade.
Mesmo com o risco de desagradar a muita gente, era melhor falar do que refugiar-se no silêncio egoísta dos acomodados; esta atitude democrática, contudo, raramente foi bem-vinda na história da humanidade, fosse o poder exercido por um rei, um presidente, um sacerdote ou um chefe de partido.
Na prática, o cidadão logo percebeu que sua liberdade de opinar não podia ser plenamente exercida, pois franqueza demais terminava complicando sua vida e atraindo a represália do poderoso de plantão.
Foi assim que o senador romano Lúcio Vitélio – “um grande talento para a lisonja”, segundo Suetônio – conseguiu sobreviver aos imprevisíveis arroubos sanguinários de Calígula, um dos imperadores mais insanos da história do Ocidente, psicopata perigoso que, ao beijar a nuca da esposa, nunca deixava de lembrar-lhe, em tom carinhoso: “Posso mandar cortar este pescocinho na hora em que eu quiser”...
Calígula, que se julgava igual aos deuses do Olimpo, mandou construir um tempo dedicado a si mesmo, onde planejava instalar a famosa estátua de Zeus, assinada por Fídias, depois de trocar a cabeça original por uma esculpida com suas próprias feições.
Coincidência ou não, o navio que deveria transportar a estátua foi fulminado por um raio, e isso o deixou tão furioso que mandou construir uma máquina que imitava o brilho dos relâmpagos e o som do trovão, para responder, de igual para igual, ao seu desafeto divino.
Vitélio, que não era bobo, prestava-lhe todas as honras divinas, dedicando-lhe as preces e os sacrifícios correspondentes. Seu golpe de mestre, no entanto, veio no dia em que Calígula, que se gabava de ter um relacionamento amoroso com a Lua, perguntou se ele os tinha visto no céu fazendo amor; Vitélio baixou os olhos, como se perturbado, e, com voz trêmula, balbuciou: “Mas um mortal como eu não consegue ver o que os deuses estão fazendo, senhor!”.
Mesmo nas relações pessoais mais simples, em que não está em jogo nossa própria pele, temos de admitir que muita sinceridade faz mais mal do que bem, sendo quase sempre recebida como pura grosseria.
A chave que abre todas as portas é o elogio – seja ele justo, exagerado ou até mesmo indevido. Dane-se a filosofia, que aqui ninguém está buscando a verdade. Se quiser viver em paz com seu semelhante, faça como Casanova, que disso entendia muito bem: diga à bonita que ela é inteligente, e à inteligente que ela é bonita; dessa forma, todo mundo fica feliz.
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