sexta-feira, 10 de junho de 2011



10 de junho de 2011 | N° 16725
PAULO SANT’ANA


Battisti é nosso

O alvará de soltura concedido ao ex-terrorista Cesare Battisti continua repercutindo.

Fiquei quatro horas diante da televisão a assistir atentamente o julgamento do feito. E, se me perguntarem se sou contra ou a favor da decisão prolatada, quero dizer que era contra mas fiquei agora a favor.

Chamou-me a atenção em especial uma discussão afanosa entre os ministros do Supremo Tribunal Federal: se a Itália seria um país de democracia estável, sólida e tradicional, confiável portanto para que lhe fosse entregue pelo Brasil o extraditando.

É a questão que estou compartilhando com os meus leitores.

Fiquei sabendo, pelo julgamento, que a associação dos policiais italianos divulgou nota e posição, solicitando veementemente que o Brasil extraditasse Battisti.

Fiquei sabendo também que a associação dos agentes penitenciários italianos também pediu que o Brasil devolvesse Battisti para a Itália.

É democrático que duas associações de classe se manifestem sobre assunto de tanta relevância, mas, me desculpe a Itália, policiais e agentes penitenciários não tinham de meter seu bedelho nesse assunto, muito principalmente porque se tratava de um preso e fugitivo e não interessa mais aos policiais voltar a prendê-lo, eis que ele se encontrava no Exterior sob custódia do Brasil, e que diabo é essa associação de agentes penitenciários que se proclama escolhedora dos presos de quem quer se carcereira?

Cheirou a vingança corporativista.

Por isso, já fiquei simpatizando com a negativa em extraditar Battisti, levada à frente por Lula e Tarso Genro.

Mas ainda mais havia para não deixar que fosse extraditado o preso.

No julgamento, foi lida uma declaração de um ministro da República da Itália: “Não seria má ideia que trouxéssemos Battisti de volta para cá e o torturássemos”.

Credo em cruz, essa é a democracia sólida da Itália em quem o Brasil pode confiar e entregar a ela o seu extraditando?

Num clima como este que relato, não há garantia de que o preso não sofra perseguição, se for extraditado. E perseguição política, esta é a palavra.

A Itália, por esses fatos, está provando que não quer a extradição de Battisti por ele ser assassino, está querendo-a por ele ser comunista.

Então, desfazem-se-me as dúvidas: foi até bom acontecer isso, para o Brasil lavar sua honra num banho lustral de soberania.

Ficou, assim, empatado um jogo de prestígio que a Itália sempre ganhou do Brasil: o governo da Itália queria a extradição, o governo brasileiro não queria.

Como quem detinha o extraditando era o Brasil, por que não ficarmos com ele?

Ainda mais com esse fanatismo ideológico que se viu na Itália durante o episódio da pendenga.

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