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quarta-feira, 15 de junho de 2011
VINICIUS TORRES FREIRE
O grande dilúvio dos salários
Em 2010, 94% dos pisos salariais tiveram reajuste acima da inflação; em 2011, o buraco é mais embaixo
A EQUIPE ECONÔMICA do governo e seus críticos, em especial economistas ligados à finança, têm um acerto de contas marcado para o final do ano, quando então será possível avaliar quão controlados estarão os preços -se é que vão estar.
Uma das contas em exame será a dos reajustes de salários no trimestre final de 2011, uma enchente que estouraria os diques precários do controle inflacionário, diz a tese dos economistas mais alarmados, ou alarmistas. Pior que isso, a rodada de reajustes de grandes categorias de trabalhadores ressuscitaria a rotina da indexação a taxas elevadas.
Faz uns dois meses, dizia-se até que a inflação acumulada em 12 meses chegaria a 7,5% quando entrasse setembro, início da temporada da grande reindexação. Com expectativas de inflação deterioradas, economia ainda aquecida e desemprego baixíssimo, viria uma onda de aumentos nominais de 10%, por baixo.
Ontem, o Dieese divulgou um estudo que evidencia o quanto uma economia superaquecida de fato permite reajustes salariais disseminados e eleva o risco de reindexação. Em 2010, com PIB crescendo a 7,5% ao ano, cerca de 94% dos pisos salariais de 660 categorias examinadas tiveram reajustes superiores à inflação (medida pelo INPC).
Três quartos dos pisos tiveram reajustes reais (acima da inflação) superiores ao do número menos duvidoso sobre a taxa de aumento geral de produtividade, uns 2%.
Ressalte-se que o risco de indexação salarial "na prática" não é uma ninharia teórica ou "liberal". Mas quais os riscos de fato para 2011?
Em dezembro de 2010, o salário médio real subira 6,1% sobre o ano anterior (medida pela pesquisa mensal do IBGE para seis regiões metropolitanas). A massa salarial (soma dos salários) crescera 8,6%, na mesma comparação (mas chegara a subir 11,1% em setembro).
Em abril deste ano, o ritmo de crescimento do salário médio real baixara a menos de 2%. O da massa de salários, para uns 4,3%. Não se pode dizer que apenas a inflação fez o serviço de comer o valor do salário real, pois o ritmo do reajuste nominal também cai. A população ocupada crescia a 4,3% ao ano em abril de 2010; em 2011, a 2,3%.
A economia de 2011 deve andar na metade do ritmo verificado em 2010. O grosso do efeito das medidas de controle de crédito e de gasto público mal começa a bater na atividade econômica, ainda menos no mercado de trabalho.
Na opinião de Aurélio Bicalho, economista do Itaú, em relatório do banco da semana passada, "o mercado de trabalho aquecido ajuda a amortecer o impacto de outras medidas de contenção da demanda
investimentos, gastos do governo], mas não evita a desaceleração do consumo...".
Mais interessante: "O mercado de trabalho reage de modo retardado ["with lags"] aos choques que afetam a economia. Em outros termos, a desaceleração econômica deve afetar o mercado de trabalho nos trimestres por vir".
Além de o tamanho do reajuste das "grandes categorias" ser uma incógnita, observe-se que importa mais a massa de salários do que o valor de referência deste ou daquele grupo de trabalhadores.
Quantos outros trabalhadores serão contratados (se é que serão) num ambiente econômico mais frio? Quanto desses reajustes serão imitados em categorias menos fortes?
vinit@uol.com.br
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