sexta-feira, 10 de junho de 2011


Jaime Cimenti

Dia dos Namorados

Sim, a gente sabe, melhor seria Dia do Amor ao invés de Dia dos Namorados. Amor de todo tipo, de qualquer maneira, amor-próprio (o único eterno?), divino, carnal, humano, sobrenatural, amor de mãe, amor por árvore, bicho, pátria, gente, causa política, filosófica, tudo mais.

O amor é a coisa maior, e é quem deve ganhar nos finais dos embates e das vidas. Mas amar, que é trocar a alma de casa, como disse o Quintana ou entregar a solidão, que é nossa coisa mais última, como disse a Clarice Lispector, se realiza total e verdadeiramente através das pessoas, dos namorados.

Não dá para ficar só no abstrato, no metafísico, a não ser que você seja santo e, mesmo assim, daqueles santos que não dão apertos de mão, beijos e abraços. Amor mesmo tem que ter pegada, pegação, corpo, alma, entrega e tal.

Amor platônico, por exemplo, se cura mesmo com uma bela trepada homérica. Quem foi mesmo que poetou: que pode fazer uma criatura, entre outras criaturas, senão amar? Deve ter sido o Drummond ou o Vinicius, não importa.

Tá na boca do povo. De mais a mais, sem Dia dos Namorados, como é que as pessoas iriam nos shoppings, nas lojas das ruas e avenidas e nas feiras comprar bombons dentro de caixas em formato de coração, joias, bijuterias, camisetas, celulares, flores, anéis, ursos de pelúcia, cartões e outras essencialidades? Sem Dia dos Namorados, como é que ia ter um jantarzinho especial em casa ou nos bares e restaurantes?

É simpático o comércio e os serviços faturarem uma graninha com o amor e os namorados. Lucro romântico, né? Até o amor, ou principalmente ele, merece e requer certa disciplina, certos rituais, certas palavras e gestos. O amor merece um dia especial para os namorados e até para os livre-pegadores, ficantes e ficantes fixos pensarem em namoros mais duráveis, desses que atualmente alcançam mais de nove semanas e meia.

Diz lá a canção eterna: os amantes serão sempre bem-vindos no mundo, as times goes by. Tomara que nesse Dia dos Namorados até os velhos namorados, depois do amor, juntem os cabelinhos brancos e durmam em posição de conchinha, tipo assim nas antigas luas de mel em Bento Gonçalves, Ana Rech, Garibaldi, Canela, Gramado, Rio de Janeiro, Salvador e outros cenários onde até apareciam cupidos, virgens, juras de amor eterno, anjos, gnomos, beijos e vinhos e uma infinidade de coisas. Ame, dê vexame, não se reprima, siga Roberto Freire, que amou e foi amado.

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