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terça-feira, 14 de junho de 2011
14 de junho de 2011 | N° 16729
PAULO SANT’ANA
Suicídio como dever
Rigorosamente, fiquei pasmado com o relato de meu amigo.
Quase não é de acreditar o que lhe aconteceu, mas ele me foi tão incisivo e tão aparentemente sincero, que acreditei no que me disse e transfiro aos meus leitores os fatos bem como eles aconteceram.
Meu amigo marcou consulta com o psiquiatra e expôs-lhe a sua profunda e irremediável dor.
Contou ao psiquiatra das gigantescas dificuldades que tem enfrentado nesta sua vida de 75 anos de idade, da luta que tem empreendido nos últimos anos para derrubar os obstáculos que tem enfrentado nos assuntos de família e demais detalhes domésticos, enfim, do dramático e renhido combate que veio dando nesses últimos anos para livrar-se de seus graves problemas.
Depois do relato de sua saga, meu amigo foi ao nó górdio da questão, dirigindo-se de forma veemente ao psiquiatra: “Sendo assim, como demonstrei, não só desapareceram todas as possibilidades de solução dessa minha crise como também esse quadro imutável dos meus tormentos me levou a tomar uma decisão radical: decidi que vou suicidar-me. Como o senhor viu, não há remédio para os meus males.
Tentei superá-los. Um a um, eles não foram superados. Tentei driblá-los. Um a um, eles foram se escapando de meus dribles e se recolocavam diante de mim como pedras de um rochedo rude. Fiz de tudo para transpor esses incessantes obstáculos, nada consegui.
Todas as portas se fecharam para mim. Todos os que se antepunham à minha felicidade mostraram ouvidos surdos às minhas explicações primeiro, às minhas súplicas depois. Diante disso, não há nada mais a fazer para pôr fim a esse processo cruel que está me destruindo que não seja a decisão que tomei: vim aqui dizer-lhe que decidi me suicidar.
E, por tudo isso que disse, só quero saber o que o senhor tem a me dizer sobre essa minha decisão de pôr fim à minha vida”.
O psiquiatra, depois de ouvir com devotada atenção o relato do meu amigo, falou pausadamente: “Olhe, eu ouvi com muito respeito a sua desdita. O senhor tentou muitas e muitas vezes ultrapassar os obstáculos.
E tentou mudar a atitude das pessoas que de alguma forma o infelicitam. Por várias vezes, nada conseguiu. E, do jeito que me relatou, parece que nada, daqui por diante, novamente, nada conseguirá. Então eu quero lhe dizer como seu terapeuta que, em face dos acontecimentos que em sua vida são irrevogáveis, aprovo o seu suicídio. O senhor tem de suicidar-se mesmo. Não vejo outra saída”.
Meu amigo deixou o edifício do psiquiatra desconsolado mas resoluto.
Só não me disse se foi-lhe cobrada a consulta.
O advogado Marco Antônio Campos tem uma síntese para o péssimo futebol de Grêmio e Internacional no campeonato brasileiro: “Chegou a um ponto em que os gremistas só têm alegria vendo os jogos do Inter pela televisão e os colorados só conseguem vibrar assistindo aos jogos do Grêmio na telinha”.
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