quinta-feira, 30 de junho de 2011



30 de junho de 2011 | N° 16745
PAULO SANT’ANA


Dinheiro dos brasileiros

Leio como manchete que o empresário Abílio Diniz, proprietário do Pão de Açúcar, vai pegar de empréstimo R$ 4 bilhões do BNDES para adquirir o Carrefour.

Não entendo direito desse negócio, mas a mim parece imoralmente desolador que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, um banco público e oficial, vá destinar dinheiro do povo brasileiro para uma rede de supermercados comprar outra.

Onde é que está o “desenvolvimento social” nesta barganha?

Se fosse para fundar um supermercado, até que eu admitiria. Mas para comprar uma rede de supermercados que já existe, que é sólida, que portanto não vai entrar no mercado para “desenvolver”, me soa esta maracutaia a uma farra dinheirista com os recursos dos contribuintes brasileiros.

Mas será que o BNDES se presta para este tipo de negociata? É frustrante saber como se desenrolam no Brasil estes negócios fraudulentos.

Mas qual é o fim que dão ao suor dos brasileiros que se transforma em capital e é assim repartido como butim por empresas que se dedicam à pirataria capitalista?

É o fim da picada.

Tudo que o consumidor brasileiro deseja é a saudável concorrência entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. Como é então que o BNDES, um banco público sob gerência governamental, entra num negócio que concretamente impede esta concorrência elogiável?

Para que o BNDES invista nessa transação, é necessário o interesse público.

Mas pode haver interesse público num negócio que impede que fabricantes de eletroeletrônicos, alimentos e bebidas percam o poder de barganha para vender seus produtos a diversas redes, concentrando-se esse negócio somente a um gigante do setor? Evidentemente que os consumidores terão acesso a esses produtos com encarecimento.

Mas pode o Estado incrementar, pelo BNDES, um negócio de varejo que vende salsichas e biscoitos?

Não teria o BNDES outros fins mais nobres para empregar o dinheiro dos brasileiros, utilizando-o em projetos sociais?

E não seria mais apropriado que o Pão de Açúcar se valesse de capital privado - e não do BNDES - para levar à frente esta suspeitíssima empreitada?

E não seria mais aceitável, ainda que talvez desaconselhável, que o BNDES usasse seu poder de fogo para aumentar a concorrência entre as redes supermercadistas, em vez de patrocinar a concentração?

É tão revoltante que atraiu a minha atenção, eu que sempre sou indiferente a esse tipo de assunto.

É o fim da picada.

Passando para outro assunto, mas não menos desagradável, quarta partida do Grêmio sem vitória, desta vez contra o Avaí, lanterna.

Exala-se desse desastroso episódio um aroma de segunda divisão.

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