quarta-feira, 15 de junho de 2011



15 de junho de 2011 | N° 16730
DAVID COIMBRA


Cuida o sete!

Agente ia jogar lá no Rio Maina, um distrito de Criciúma. A gente sabia que ia ser dureza, o time do Rio Maina pouco perdia, ainda mais lá. Já na sexta à noite encontrei o Ricardo Fabris e ele apontou o indicador para o teto do bar e advertiu:

– Cuida o sete. O sete é o melhor deles.

E ficou dizendo como o sete jogava, que o sete era rápido que nem uma avestruz, brabo que nem um cachorro, forte que nem um boi. Um bicho.

O Silvio Bressan estava na mesa e concordou:

– É. Aquele sete joga muito. Cuida com ele.

O sete. Fiquei com aquilo na cabeça. Por via das dúvidas, bebi pouco e fui para casa cedo, concentrar. No sábado de manhã, todos que encontrava na praça me diziam:

– Cuida com o sete deles. O sete é fogo. Joga demais.

Maldição. Não saí de casa aquela noite. Vi o Supercine, comi massa. Carboidrato para dar energia e talicoisa. Na manhã de domingo, enquanto a nossa Kombi rumava para o Rio Maina, o pessoal repetia:

– Nosso grande problema vai ser o sete. Tem que cuidar daquele sete!

Quando entramos em campo, procurei o sete com o olhar. Lá estava ele. Magro, mas forte. Pernas compridas. Jeito de boleiro. Estilo, entende? O cara tinha estilo. Era uma mistura de Renato com Valdomiro. Observei a forma como dominava a bola. Ela podia vir toda emparalelepipetada que dormia no pé dele. E uma hora ele chutou no gol. Cristo! A bola saiu que nem um cofre caindo do oitavo e, CATIUMBA!, explodiu no travessão. O homem não tinha um chute, tinha uma patada.

Então me concentrei. Não ia deixar aquele sete pegar na bola, por Deus que não ia.

E a bola veio de lá e me antecipei. Nem quis saber dela, mandei longe, tira esse troço de perto de mim. Era uma decisão política: não pretendia jogar, só não queria que o sete jogasse. Encostei nele, aquele sete maldito. Quando ela vinha vindo eu já ia indo.

Se ele conseguisse tocar nela, eu o derrubava, agarrava, dava ombraço, dedaço nas partes pudendas, jogava sujo. No intervalo, todo mundo me cumprimentou:

– Tá cuidando o sete! Tá cuidando o sete!

No segundo tempo, a mesma coisa. O sete ia pra lá, eu ia também; o sete vinha pra cá, eu vinha também. Não vou te largar, seu sete miserento! Pois não larguei. Olha que não dei um passe, não dei um chute, não fiz lançamento, não driblei, nada. Mas o sete não jogou. O sete não chegou a encostar nela.

Só no finzinho é que eles tiveram um escanteio e o nosso goleiro, Ezequiel, o famoso Zig, tirou de tapa.

A bola sobrou na meia-lua e um deles, um meio gordinho, daqueles gordinhos bons de bola, ele chutou e bateu num nosso e voltou pra cá e repicou lá e aí o Ramão, velho Ramão que era um volante clássico e hoje é empresário de futebol, pois o Ramão mandou uma bicanca e ela bateu na nuca do sete, que ia saindo da área, e voltou para o nosso gol.

E entrou.

WOLFREMBAER!!! Eles ganharam. Os caras todos olharam para mim, o Ricardo Fabris balançou a cabeça:

– Eu disse pra cuidar do sete. Não, o futebol não é justo.

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