sexta-feira, 7 de agosto de 2009


Jaime Cimenti

O jovem, o homem, o passado e presente

Olhos Secos é o sexto romance do premiado escritor, tradutor e jornalista Bernardo Ajzenberg , nascido em São Paulo em 1959. Autor de Variações Goldman, A gaiola de Faraday (Prêmio da Academia Brasileira de Letras e Homens com mulheres (finalista do Prêmio Jabuti), entre outros, Bernardo já trabalhou na revista Veja e nos jornais Folha de São Paulo, Última Hora e Gazeta Mercantil e foi coordenador executivo do Instituto Moreira Salles.

Olhos Secos conta a história de um homem dividido entre o passado e o presente, entre o desejo de viajar e ficar, entre as tradições de sua família judia e suas próprias escolhas e entre o amor e o ódio pelo pai.

Para completar o quadro, Leon Zaguer, o protagonista, aos quarenta anos, em 1998, está envolvido com as ameaças que um cliente do cartório onde trabalha lhe faz, o fim de seu casamento, a distância da filha e as dificuldades para melhorar na carreira.

Uma parte do livro narra em forma de diário a juventude de Leon, que aos dezoito anos conheceu os kibutzim de Israel e, depois, se lançou numa viagem pela Europa da efervescência política dos anos 1970. Passou por Atenas, Belgrado e Paris. Voltar ou não ao Brasil?

Enfrentar a ditadura militar ou ficar na democrática Europa? Esses dilemas de toda uma geração estão na obra, que, num segundo momento, com tons mais melancólicos, mostra o pai de Leon, no hospital, à beira da morte, despejando todo o seu rancor e a sua decepção pela falta de ambição do filho, já quarentão e sem perspectivas consistentes.

Diante de tudo Leon fica dividido entre permanecer imóvel ou tomar as rédeas de sua situação. A voz ingênua e esperançosa da juventude vai prevalecer ou, no final, a queda do adulto será inevitável?

Olhos secos fala com linguagem concisa, incisiva e, ao mesmo tempo, profunda sobre tensões familiares, sonhos e pragmatismo de uma geração que viveu durante os anos de chumbo e sobre a incapacidade de se relacionar mais e melhor com as pessoas e o mundo.

A partir das dificuldades de chorar e de ter esperança, com os olhos no início secos, Leon, em princípio relutante, vai tomar uma decisão que poderá alterar profundamente sua vida.

Há quem note ecos do genial escritor norte-americano Philip Roth na narrativa de Ajzenberg e tal observação é válida, muito embora o protagonista do romance de Bernardo seja mais melancólico do que o lendário Portnoy de Roth.

Tratando de temas essenciais, com grande domínio narrativo, Ajzenberg se confirma na primeira linha dos escritores brasileiros atuais. 184 páginas, R$ 28,00, Editora Rocco, telefone 21-3525-2000.

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