segunda-feira, 10 de agosto de 2009



10 de agosto de 2009
N° 16058 - SERGIO FARACO


O cigarro

Comecei a fumar aos 13 ou 14 anos. Se os guris da rua fumavam e, com as volutas desse charme, eram bem-sucedidos com as gurias, por que eu não poderia também? Marusca era a marca do jurássico pito.

A primeira tragada quase me derrubou e acrescente a náusea que me perseguiu no resto do dia. O segundo cigarro, se atordoou, algum prazer rendeu, tanto que fumei um terceiro, um quarto, um quinto, e continuei fumando nos seguintes 54 anos.

Haja pulmão. Era hora de parar. Tarde, não? Mas parei.

E acredite, você que jamais sucumbiu ao vício, parece-me que, não fumando após as refeições, a comida perdeu o gosto – tenho comido em nome da sobrevivência, como quem toma um remédio indispensável. Exagero? Ora, se peco é pela moderação: parece-me que o próprio dia a dia tornou-se insípido.

Antes eu ia ao correio, e na volta, como as vacas rumo ao saleiro, sempre fazia o mesmo caminho: de uma oficina na Tristeza a uma loja de automóveis em Ipanema, para cavaquear sobre carros e, claro, sobre a salvação da pátria e as razões profundas de nossa estadia na parte de cima da terra, e tais prosas mecânicas, políticas e filosóficas se desenvolviam nutridas por cafezinhos e em acolhedora e propícia atmosfera enfumaçada. Em casa, sentava-me à mesa para escrever e, nos momentos de dúvida, recorria a uma tragada esclarecedora.

Agora, este vazio.

O sem-gracismo cotidiano ainda me mata, mas, olha só, com o passar dos dias, das semanas e já dos meses, minha disputa com o cigarro transformou-se em birra, um em cada ponta do cabo-de-guerra. Vai me enervar? Ah, é assim? Essa angústia?

Então toma lá: dou corda e puxo.

Vou ao correio, visito a oficina, a loja, e em todos os lugares que frequento, inclusive meu escritório, tomo saborosos cafezinhos com um único intuito: provocar. Provoco e não fumo. E sigo provocando.

Que força de vontade! Será que dura?

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