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sábado, 8 de agosto de 2009
08 de agosto de 2009
N° 16056 - PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES - INTERINO
O dilema do Tamiflu
Vacinas, remédios e unguentos nos atormentam desde o tempo em que tínhamos uma mãe sábia para nos ajudar a entender, sem a ajuda do Google, os mistérios das curas e da medicina. Mas que tormento moderno é esse trazido pelo Tamiflu? Tomar ou não o Tamiflu é o maior dilema mundial. O Tamiflu me assusta na maturidade como a vacina contra a varíola me atormentou na infância.
Durante meses, aí pelos seis anos, fugi de uma das gurias mais lindas do Grupo Escolar Alexandre Lisboa, no Alegrete, porque me aterrorizava a cratera que tinha no braço. Um buraco em forma de vulcão. Quanto maior a ferida, diziam, maior era o potencial de contágio.
Todos se escondiam da guria depois de avaliar o tamanho da cratera que exibiam. Uns diziam: a minha é pequena. Outros se orgulhavam: a minha já secou. E uma minoria se vangloriava erguendo a manga do tapa-pó: em mim não deu nada.
As feridas provocadas pela vacina ficaram em nossos braços como marca dos medos infantis com a cura que poderia trazer junto a morte. As vacinas nos afastaram das gurias com vulcões purulentos e nos salvaram da varíola, do tétano, do sarampo e da tosse comprida.
Além dos remédios de ciência comprovada, minha geração experimentou todas as simpatias. Andei com trouxinhas com ervas dependuradas no pescoço. Era constrangedor ficar sem camisa e exibir aqueles colares caseiros de barbante. Comi farinha de casco de tatu, beterraba desidratada, tomei baldes de chá de arnica, fumei ervas fedorentas. Nenhuma pajelança contra a asma era mais assustadora do que a vacina contra a varíola.
E o que se faz agora com o Tamiflu? Li tudo o que já se publicou da controvérsia em torno do remédio e continuo obediente à recomendação do Ministério da Saúde. Só tomaria o Tamiflu em último caso. Mas o que é o último caso para quem está gordo e corado e passou pela última friagem sem um espirro?
O Tamiflu põe a ciência em confronto com sua complexidade, seus avanços e seus limites e inverte o caso clássico da revolta da vacina, tantas vezes lembrado por Moacyr Scliar.
Em 1904, no Rio, o povo se revoltou contra a vacinação obrigatória para combater a varíola. Agora, o povo quer tomar o remédio contra a gripe retirado das farmácias. Já imaginei – e quem não imaginou – a reação que haveria se a circunstância fosse outra e, em meio a tanta informação desencontrada, o governo obrigasse a população a tomar o Tamiflu. Teríamos de chamar Oswaldo Cruz de volta.
Só quem se convenceu de que está totalmente imune à gripe não se submete ao dilema pessoal de cada um diante da suspeita de que pode estar doente: mando comprar o remédio em Rivera e debelo logo a doença, ou posso piorar e até morrer? O dilema mais amplo é um embate interminável: tenho o direito de consumir o Tamiflu depois da primeira tosse e contribuir para o fortalecimento do vírus e o alastramento da epidemia?
Entre as tantas coisas ditas sobre o Tamiflu, circula na internet um vídeo com mais uma teoria da conspiração. O pânico seria o cenário montado para o marketing do antídoto.
Boatos, maldades e medos só prosperam porque uma gripe e um remédio ainda põem tanta gente estudada em conflito sobre o que se deve fazer. A ciência demora a nos entregar o que sempre promete – a certeza de que experimenta, deduz e submete à prova suas verdades. O Tamiflu nos avisa que estamos sempre sob experimentação.
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