sábado, 8 de agosto de 2009



08 de agosto de 2009
N° 16056 - CLÁUDIA LAITANO


Paternidade gelol

Quando Duda Mendonça criou a clássica campanha do Gelol (“Não basta ser pai, tem que participar”), em 1984, sem perceber estava marcando um golaço, e não apenas na publicidade brasileira – esse comercial superpremiado até hoje é um dos mais lembrados pelo público e um dos mais estudados pelos pesquisadores de comunicação.

Com alguma liberdade, é possível situar por aí, meados dos anos 80, os primeiros sinais de uma nova paternidade – que, sem risco de alguém não entender, podemos apelidar de “paternidade gelol”.

Nós, as meninas que nem sabiam que o gelol existia, talvez não tenhamos captado os sentidos mais profundos que esse comercial expressava, mas qualquer menino (ou homem feito) dos anos 80 se sentia especialmente tocado pela dedicação daquele pai que saía cedo da cama para acompanhar o filho no jogo, enfrentava uma chuva de lascar e ainda socorria o machucado do guri pouco antes de o pequeno jogador, amparado pela presença acolhedora do pai, marcar seu primeiro gol.

Esse pai presente e atuante no dia a dia dos filhos sempre existiu, evidentemente, mas como bem-vinda exceção em uma cultura que valorizava com mais ênfase outros atributos da paternidade.

Antes da revolução feminina, pai bom era pai que sustentava a família direitinho e sabia usar a autoridade sempre que necessário – ou seja, quando a mãe exigia. Ia mais ou menos sem discussão que tanto as miudezas cotidianas – trocar fraldas, dar remédio para a febre, ir nas reuniões da escola – quanto as demonstrações de afeto e as horas de convivência eram responsabilidade prioritariamente feminina.

Como parte de uma mudança de comportamento e valores que atingiu homens e mulheres, os guris que cresceram assistindo ao comercial do Gelol (talvez lamentando não terem tido um pai como aquele) acabaram criando um outro ideal de paternidade. Livres do peso de sustentarem sozinhos a casa, os homens começaram a sonhar com uma relação com os filhos que fosse além da hora da mesada ou da bronca – a paternidade gelol.

Esses pais que você encontra palpitando nas reuniões de escola, correndo atrás de uma bicicleta nos parquinhos ou trocando fraldas no shopping são fenômenos da nossa época, tanto quanto as mulheres que dividem as contas e colocam a carreira entre as suas prioridades – não apenas porque precisam, mas porque gostam e querem e podem. Uns não existiriam sem os outros.

Mas, se os homens já aprenderam a se beneficiar dessa mudança de papéis, faz parte do tema de casa das mulheres facilitar um pouco a vida desses pais que estão tentando mudar uma tradição de séculos.

Uma pesquisadora americana foi investigar a irregularidade do envolvimento masculino com os filhos (por que alguns fogem de uma troca de fraldas como de comédia romântica e outros não) e descobriu que um dos motivos desse afastamento é a cobrança excessiva das mães.

Quanto mais controladora e perfeccionista a mulher, menos o pai se sente à vontade para participar da vida dos filhos. Muitas mães acreditam, honestamente, que só elas sabem o jeito “certo” de cuidar do filho, e com isso todos saem perdendo – as crianças inclusive.

Neste Dia dos Pais, não custa lembrar: não basta ser mãe, tem que deixar o pai ser pai (do jeito dele) também.

Nenhum comentário: