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sexta-feira, 10 de abril de 2009
10 de abril de 2009
N° 15934 - DAVID COIMBRA
Um pacote de cães
Nos tempos de faculdade, fiquei pensando se devia virar comunista. Fiz um trabalho sobre Gramsci, apresentei para a aula e tudo mais, mas o problema é que Gramsci é chato. Na verdade, o comunismo inteiro é muito chato, com todas aquelas regras e o coletivismo e o controle do Estado e bibibi.
Então, decidi que não queria ser comunista.
Só que ainda pretendia derrubar o governo, todos pretendíamos no nosso grupo. Éramos eu, o Juremir Machado da Silva, o Ricardo Carle, que já morreu, o Sérgio Lüdtke, que é editor do Clic, o Sérgio Bueno, que é marido da Luciana Genro.
Como primeiro passo no caminho para a revolução, organizamos uma chapa a fim de concorrer ao Diretório Acadêmico. Era uma chapa séria, cheia de ideias para melhorar a faculdade. Nossa campanha foi agressiva. Fazíamos cartazes e panfletos e discursos nas salas de aula.
Eu e o Sérgio Lüdtke trabalhávamos na Livraria Sulina. Um dia, trouxemos uma caixa de tinta têmpera para pintar o prédio da faculdade com o nome da nossa chapa. Esperamos o prédio esvaziar e passamos a noite pintando as paredes, as janelas, tudo.
– Não vai dar problema? – perguntou o Juremir.
– Que nada – tranquilizou-o o Sérgio. – É têmpera, sai com água.
– Ótimo. Vamos terminar para depois ir beber – propôs o Ricardo Carle.
Depois da função, lá estávamos nós no bar do Maza, na Bento, e lá ficamos até quase de manhã, tecendo elevadas discussões sobre política, literatura e as pernas da Isabel Cristina, que sentava perto da janela. Em meio a tantos debates, desabou uma tempestade furiosa e cascateante.
– Ih, lá se foi nossa pintura... – lamentou o Sérgio Bueno.
– Vamos beber outra – respondeu o Ricardo Carle.
No dia seguinte... surpresa! A Famecos continuava toda pintada, o nome da nossa chapa estampado em paredes, janelas, piso, teto, em cada canto. O Antoninho Gonzales, diretor da faculdade, só não nos expulsou porque ele era... bem, ele era o Antoninho Gonzales, sabia das coisas.
Perdemos a eleição por 17 votos, o que foi decisivo para nossa evolução ideológica – tornamo-nos anarquistas. Mas éramos anarquistas de conteúdo, líamos Bakunin e Proudhon e ainda queríamos derrubar o governo.
Com o passar dos semestres, a seriedade do nosso anarquismo foi arrefecendo. Os guris montaram uma chapa para concorrer ao Centro Acadêmico da PUC. O nome da chapa: “Céus Vermelhos e um Pacote de Cães”.
O programa se resumia a uma única proposta: os candidatos prometiam beber todo o dinheiro que a universidade repassasse para a campanha. Céus Vermelhos recebeu alguns votos. Não o suficiente, porém, para vencer a eleição.
Mesmo assim, a promessa de campanha foi cumprida. Lá no Maza, de novo, e de novo as pernas da Isabel Cristina foram debatidas à exaustão – ela usava uma minissaia sumária, de fato.
Saí da faculdade não acreditando em nenhuma ideologia, e suspeito que os meus colegas também. Já faz tempo isso. Hoje, me surpreendo com a discussão ideológica desencadeada pela crise financeira internacional. O capitalismo acabou, festejam alguns.
Acabou? Mas qual é mesmo a alternativa? Só pode ser o projeto da Céus Vermelhos e um Pacote de Cães.
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