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quarta-feira, 8 de abril de 2009
08 de abril de 2009
N° 15932 - SERGIO FARACO
O pimentão olímpico
Dom Carlos – assim o chamava, embora ele não gostasse – era um homem circunspeto, de escassos sorrisos, ligeiramente desconfiado, ou antes ligeiramente cético, um efeito, quem sabe, da atribulada trajetória de sua existência.
Ele se houve com um sem-número de percalços até que seus negócios afinal prosperassem, facultando-lhe a constituição de uma família saudável, laboriosa, e uma vida tão pacata que, em seus últimos anos, chegava a ser monástica.
Morreu no ano passado, por certo compenetrado de que fez tudo o que tinha de fazer. Não é assim que morre a maioria das pessoas.
Esse Carlos, na verdade, chamava-se Karoly Cvitko, e nasceu em Csantavér, pequeno burgo ao sul da Hungria. Pouco depois da ignomínia que foi a invasão da Hungria por tropas soviéticas, em 1956, ele deixou o país com a mulher Erzabet e uma filha pequena, e veio morar no Brasil.
Trabalhou como operário numa siderúrgica, e em seguida, por falar alemão e inglês, foi contratado como recepcionista do Plaza Hotel, em Porto Alegre.
Trabalhou na mesma função em hotéis do Rio de Janeiro e de São Paulo. Por essas injunções do acaso, no segundo lustro dos anos 60 estabeleceu-se em São Sebastião do Caí. E ali, no km 9 da RS 122, Karoly e Erzabet fundaram um restaurante especializado em cozinha húngara, A Canga, que em 2009 completa 42 anos, administrado pelo filho Carlos José e pelo neto Carlos Felipe.
Mudou a administração, não a família e muito menos a receita do pimentão recheado com carne moída e arroz, ao molho de tomate com páprica doce, que continua tão irresistível como na primeira vez que o provei, em 1972.
Conheci o restaurante húngaro através do advogado Cláudio Battaglia e sua esposa Marlene, de cujo casamento fui padrinho, num dia que, por sinal, começou mal: levei uma carraspana de Dom Carlos. Minha mulher e eu estávamos com nossas filhas, de três e dois anos.
Ao contemplar, inquieto, pimentões flutuantes em molho sanguíneo, perguntei ao proprietário se aquilo era apropriado para crianças. Dom Carlos enfureceu-se: “O que o senhor acha que as crianças comem na Hungria?”
As meninas comeram até fartar, e hoje, tantos anos depois, elas e o irmão menor continuam frequentando a casa e saboreando o mesmo prato. Diz Nelson Rodrigues que a gente só gosta do que comeu em pequeno.
Pode ser, mas tenho outra teoria sobre o pimentão de São Sebastião do Caí: é o mesmo que, antes da sobremesa, Hebe e Ganimedes serviam aos deuses olímpicos. É por isso que se come e, à noite, sonha-se com ele.
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