quinta-feira, 12 de março de 2009



O CHARME DO PMDB

Que país estranho, o Brasil! O senador Jarbas Vasconcelos detonou o seu partido, o PMDB, feito um marido que, depois de 40 anos de casamento, acusa a mulher de ter feito poucas e boas desde o primeiro dia.

Mas, apesar da pose de indignado, não pediu o divórcio nem caiu fora com as suas trouxinhas e a escova de dente no bolso. A mulher também não.

Limitou-se a fazer um beicinho e a pedir provas. Nem chegou a negar tudo. No popular, quer dizer, na música popular, Jarbas chamou o PMDB de Geni, aquela da letra de Chico Buarque que ia com qualquer um. A diferença entre o PMDB e a Geni, pelo jeito, é que o maior partido brasileiro jamais veria problema em se deitar com um comandante nojento e não se faria de difícil diante de um banqueiro com 1 milhão.

Essa não é apenas a minha opinião. Parece ser, antes de tudo, a de certos peemedebistas sobre o partido que dividem. Depois de Vasconcelos, com sua revolta pernambucana, foi a vez de Pedro Simon virar o cocho. Peço desculpas pela linguagem vulgar, mas ela se impõe.

Em Campinas, Simon disparou este petardo imediatamente recuperado pela mídia: 'A cúpula do PMDB se vende por quaisquer 2 mil réis'. Segundo ele, o partido não aspira à Presidência da República.

Quer apenas 'conseguir alguns carguinhos'. Será que Simon agiu por vaidade só para não ficar atrás do colega nordestino? Simon é um mestre em discursos indignados sem maiores consequências. As suas palavras soam como tiros de canhão e causam estragos de bombinhas de festa junina. Acertam o alvo na mosca. Não matam. Curiosamente, nem ferem muito.

É puro tiro de festim. Depois desse chute no balde campineiro, esperei o desfecho trágico. Já via Simon como mais um marido traído, fazendo a mala, batendo a porta e deixando o PMDB. Nada disso. Talvez não tenha motivos para sair. Afinal, ao contrário de um marido adornado, Simon não foi certamente o último a saber. Nem Jarbas Vasconcelos.

Vasconcelos e Simon chamaram o PMDB de vagabunda e de prostituta. Mas não quiseram abandonar o leito conjugal. O inverno está chegando. Deixar a cama quentinha dificilmente é uma boa ideia.

Sobra uma única hipótese: Jarbas e Simon são maridos apaixonados que acreditam na recuperação da amada. Aposta que, depois dos seus desabafos sentidos, o PMDB tomará jeito e não se comportará mais como uma cadela, vendendo-se por quaisquer R$ 2 mil ou entregando-se por qualquer carguinho. Homens apaixonados costumam desafiar a realidade.

Não conseguem viver longe do objeto dos seus amores. Só pode ser isso que está acontecendo com os senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Desancaram a amada em praça pública. Exibiram os podres da relação como se estivessem num reality show de quinta. Abriram o coração. Não conseguem, porém, viver longe do PMDB.

O PMDB é a mulher da vida de Simon e Jarbas. Lembram-se dela na juventude, quando ainda se chamava MDB e tinha um jeito de Leila Diniz. Recordam-se dos belos dias de luta contra a ditadura. Ficam por nostalgia.

O PMDB, como uma mulher que se sabe amada por um sujeito fraco, esnoba os apaixonados sem a menor piedade. Qualquer um tem cacife para ser candidato a presidente do Brasil. Menos Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos. A gostosona, o PMDB, afirma que lhe falta um bom nome. O apaixonado engole o sapo e o orgulho e fica com ela.

juremir@correiodopovo.com.br

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