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sábado, 21 de março de 2009
21 de março de 2009
N° 15914 - NILSON SOUZA
Quando os políticos eram amados
No dia em que Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História, meu pai chorou. Eu era bem menino, mas em alguma parte de minha memória devem ter ficado resquícios daquele lúgubre agosto.
Quando penso no assunto, me vejo de rosto colado na vidraça da casa paterna, esperando e temendo que alguma coisa pudesse acontecer do lado de fora – possibilidade remotíssima para uma rua de periferia onde nem ônibus passava. Nada aconteceu por lá. A não ser o meu espanto infantil em constatar que um homem público, um governante, podia ser amado por pessoas do povo, que pouco sabiam de política.
Mais tarde, ao estudar a história do Brasil, fiquei sabendo que aquele presidente baixinho e empertigado flertou com o autoritarismo, praticou o populismo, mas soube conquistar a admiração dos trabalhadores.
Hoje, ninguém mais admira político. Tá bem, Lula tem o seu fã-clube de bolsistas, mas mesmo ele é visto com certa desconfiança. Do presidente para baixo, então, nem se fala. Quem ama um ministro, a não ser sua própria esposa e seus filhos?
E um senador ou deputado? Nem mesmo os altos funcionários contemplados com cargos e benesses os amam de verdade. O povo nem quer ouvir falar de políticos.
Criou-se no país uma cultura do ceticismo em relação aos homens e mulheres que nos governam e nos representam na administração pública. Já nem me refiro à generalização – esta sim, injusta – de que todos são desonestos.
Não creio nisso. Acho que os ocupantes de cargos públicos têm os mesmos defeitos e as mesmas virtudes que todos nós temos, mas estão mais expostos às tentações do poder.
Talvez, por isso, protagonizem tantos escândalos. Não passa dia sem que um poderoso esteja nas manchetes na condição de suspeito ou réu. Nossa imprensa, também é preciso reconhecer isso, tornou-se mais eficiente desde a época de Getúlio.
Com a democratização do país, recebeu maior representatividade da sociedade para investigar e revelar coisas que a censura ocultava. Isso tem sido fatal para os políticos hipócritas, que exibem uma cara para o eleitor e utilizam outra para se locupletar no poder.
O problema é que eles caem em desgraça e se recuperam logo. Quando a gente vê, o homem que saiu execrado pelo povo está lá de novo, ocupando um cargo importante, comandando um ministério ou uma estatal, dando as cartas no Legislativo, ostentando o crachá de Sua Excelência.
Nós deixamos de amá-los e admirá-los, mas eles continuam apaixonados pelo poder.
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