quinta-feira, 26 de março de 2009



26 de março de 2009
N° 15919 - RICARDO SILVESTRIN


Sebos

De quem eram esses livros todos que estão nos sebos? Nem sempre o livro faz o caminho mais curto até chegar às mãos de um leitor que o deseje. Da editora para a livraria e por último para quem o comprou.

Muitas vezes, volta para um sebo, à espera de uma segunda chance. É claro que vender os livros que se tem em casa também é uma maneira de levantar um troco quando se está precisando. E tem aquelas pessoas que morreram e deixaram de herança sua biblioteca para ser passada nos cobres.

Quando se é autor e se acha um livro da gente num sebo, pensamos logo que alguém não gostou do que escrevemos. Mas quando vemos os outros autores que nos fazem companhia, ficamos mais aliviados: Kafka, Borges, Tolstói, Machado de Assis, Drummond e por aí vai. Deve haver outros motivos para terem se desfeito dessas obras.

Soube pelo poeta gaúcho que vive no Rio de Janeiro, Cairo de Assis Trindade, que ele comprou o meu Palavra Mágica, de 1994, num vendedor de rua, na calçada de Copacabana. Cairo trabalha os poemas em sala de aula com seus alunos. Era o leitor certo. O livro precisou fazer todo esse tortuoso trajeto para chegar às mãos dele.

Estávamos em Itajaí, na semana passada, num sebo, durante a turnê do nosso grupo, os poETs, eu e o poeta Ronald Augusto. Achei o Visagens, do Alexandre Brito, o outro integrante dos poETs. Saiu no começo da década de 80.

Está o Alexandre com um chapéu de feltro, típico look pós-hippie, na foto da contracapa. O Ronald comprou. Não tinha conseguido encontrar na época. Talvez essa tenha sido a única vez na vida em que passaríamos por aquele sebo. E lá estava o Alexandre nos esperando na prateleira com seu chapéu.

Levei pra casa Comemoração da Salada, da poeta japonesa Machi Tawara. É um conjunto de tankas, poemas curtos que captam situações cotidianas a partir de uma ótica pessoal. Saiu no Brasil em 1992. No Japão, em 1987, vendeu 3 milhões de exemplares.

Um dos tankas: “Me telefone de novo. / Me espere. / Seu amor por mim, sempre no imperativo”. Outro: “Fácil comparar a correnteza do rio. / Incomparável / é a pedra do fundo d’água”..

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