sábado, 14 de março de 2009



14 de março de 2009
N° 15907 - CLÁUDIA LAITANO

*
Vitor Fasano fake

Um falso Vitor Fasano é a nova celebridade da internet. Não me perguntem por que ele, e não o Tony Ramos ou o Reynaldo Giannechini. Talvez porque o ator de verdade já comprou briga com um veículo do mundo real, a revista Veja – e nada provoca mais o institinto de sacanagem do que a certeza de que a vítima vai se incomodar com a piada. Talvez porque todos os seus personagens são ricos ou têm cara de rico, ou porque ele é ex-modelo, ou por motivo nenhum que faça sentido.

O fato é que o Vitor Fasano falso virou um sucesso no Twitter (twitter.com) – uma ferramenta que permite criar microtextos de até 140 caracteres para que as pessoas compartilhem rapidamente com amigos ou desconhecidos uma cena engraçada que acabaram de presenciar, um desabafo, uma piada ou qualquer outro fiapo de ideia que caiba em um punhado de linhas.

Pois o tal Vitor Fasano de mentirinha narra seu dia-a-dia de rico-bonito-famoso nos mínimos detalhes. Tudo com um ar muito afetado e pretensamente chique, oferecendo aos seus “seguidores” (os internautas que acompanham suas micronarrativas) um retrato deslumbrante (e deslumbrado) da rotina de uma celebridade – correspondendo, em parte, às fantasias que as pessoas comuns costumam criar sobre a vida dos habitantes da área VIP do planeta: “Descendo para um café com Antonio Calloni. Tempo é dinheiro?

Não concordo”, “Bom mesmo é quando tudo rola entre amigos... semaninha vitoriosa. Mereço um VERY Dry Martini? CERTAMENTE.” Às vezes ele até recebe recados de outras celebridades (ou quase) igualmente falsas: “Oscarmagrini diz: cadê você? estou no deck da piscina, a azeitona preta está acabando...”.

A brincadeira de criar falsos perfis atinge celebridades de todas as esferas. A própria governadora Yeda Crusius já teve sua identidade pirateada no Twitter, como noticiou o blog da Rosane Oliveira no sábado passado. Desde o início do mês, uma falsa Yeda Crusius usa a ferramenta para comentar as notícias da área política – inspirada na nova estratégia de Barack Obama para comunicar-se com seus eleitores: “Busatto participou da campanha presidencial nos EUA e me disse que Obama só se elegeu por causa do Twitter. Bem, cá estou!”.

Dados falsos, boatos, perfis inventados, textos de um autor assinados por outro, tudo isso faz parte da internet desde o princípio dos tempos virtuais. O preço da liberdade quase ilimitada para usar a ferramenta é essa potencial anarquia de informações, esse circo ingovernável com atrações para todos os públicos – dos mais inocentes aos mais malucos. Cabe a cada usuário aprender a organizar o caos conforme seu interesse e sua capacidade crítica para reconhecer o que é informação de qualidade e o que não é.

O engraçado nessa onda de falsos personagens no Twitter não é o fato de algumas pessoas se passarem por outras ou sequer a ingenuidade dos leitores inocentes que embarcam na conversa de um falso Obama ou de uma falsa rainha da Inglaterra. O mais curioso é perceber que já não faz mais diferença se o que está ali é verdade ou mentira.

A maioria dos seguidores do Vitor Fasano fake sabe que está acompanhando a rotina de uma pessoa inventada, mas isso não importa. O que vale na rede é menos a assinatura do autor do que a eficiência do discurso, a capacidade, e o termo não poderia ser mais adequado, de atrair “seguidores” para o seu universo particular – seja ele falso ou verdadeiro, inteligente ou boçal.

E é bom ficar atento: no exato instante em que você termina de ler esta coluna, um clone seu pode estar dizendo coisas em seu nome que você nem sequer imagina...

Mereço um VERY Dry Martini? CERTAMENTE.

Nenhum comentário: