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segunda-feira, 30 de março de 2009
MOACYR SCLIAR
O casamento como projeto
A sorte estava lançada, e, claro, ela sempre poderia recorrer ao divórcio, caso o matrimônio não desse certo
Estudante britânica busca marido para projeto de faculdade. Uma estudante britânica ficou tão desiludida com suas tentativas de arranjar um marido que resolveu transformar essa procura em um trabalho de faculdade.
Alex Humphreys, de 23 anos, criou "The Husband Project" ("O Projeto Marido") -um trabalho de arte conceitual que vai apresentar em seu curso na Faculdade de Arte e Design de Leeds, na Inglaterra.
A estudante anunciou em seu blog que pretende encontrar e se casar com um homem nos próximos três meses e irá apresentar o casamento em seu trabalho acadêmico final. Mais de 150 supostos pretendentes já lhe responderam. Mundo Online
TODO MUNDO -os pais, os amigos, os colegas de curso, os professores inclusive- diziam que era maluquice. Mas isso não a faria desistir, pelo contrário: estava certa de que sua ideia era absolutamente genial. "O Projeto Marido".
Por que não? Afinal, estava concluindo a faculdade de arte e design. De alguém que vai se graduar em arte, espera-se que tenha muita criatividade.
E criatividade não lhe faltara ao bolar seu projeto. Para a imensa maioria das pessoas, casamento resultava de uma rotina bem definida: o namoro, o noivado, a festa com a presença dos pais, dos familiares.
Ela inovaria. Seu casamento seria como estas instalações que as pessoas veem em bienais e em outras exposições. Não se realizaria num templo ou num salão de festas; não, o cenário seria a própria faculdade, a sala onde os formandos apresentavam aos professores os trabalhos de conclusão de curso. Nessa sala, ela montaria um palco.
Quando os professores e os colegas entrassem, a cortina se abriria, e ali estariam eles, ela e o marido, imóveis, abraçados, sorrindo fixamente, ela empunhando a certidão de casamento. Seria um sucesso, midiático, inclusive, e com repercussão mundial. A sua carreira de artista estaria automaticamente assegurada.
O projeto foi elaborado, apresentado aos professores, e, depois de muita discussão, aprovado. Tratava-se agora de levar a coisa adiante, e para isso ela recorreu à internet.
Choveram respostas; tantas que o problema agora era escolher alguém. Decidiu recorrer à sorte. Numerou os candidatos, e optou por aquele cujo número coincidia com o dia do aniversário dela. Por coincidência, o rapaz morava na mesma cidade.
Foi procurá-lo, e foi uma decepção; ainda que bem-humorado, como ela exigira na mensagem, era um babaca, um cara ingênuo, sem nenhuma experiência de vida, e feio, ainda por cima. Mas a sorte estava lançada, e, claro, ela sempre poderia recorrer ao divórcio, caso o matrimônio não desse certo.
Casaram uma semana antes do encerramento do curso. Depois dos ensaios e dos preparativos, estavam prontos para mostrar a instalação. Tudo correu como ela previra. Tudo, menos o resultado.
Os professores acharam a instalação medíocre, carente de talento. Reprovaram-na sumariamente e deixaram o recinto, acompanhados dos demais alunos. Ali ficou ela, ainda no seu vestido de noiva. De repente, rompeu num pranto convulso; chorou, como nunca havia chorado em sua vida. Alguém abraçou-a desajeitadamente.
Era o marido, claro. Eu sempre estarei a seu lado, disse, com um sorriso tímido. Ela o olhou. Deu-se conta de que não era tão feio assim, o seu marido, e que parecia muito simpático. E aí começou a pensar que, de alguma surpreendente maneira, o projeto tinha dado certo.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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