sexta-feira, 27 de março de 2009



27 de março de 2009
N° 15920 - DAVID COIMBRA


Bermudas do Mainardi

O Diogo Mainardi fez uma entrevista vestindo bermudas. No Manhattan Connection, algumas noites de domingo atrás. Não lembro do entrevistado, mas tenho certeza de que era alguém importante e que despejou sabedoria tela da TV afora. O problema é que só restou na minha mente limitada a imagem do Diogo Mainardi dentro daquelas bermudas.

Não que o Diogo Mainardi tenha pernas especialmente atraentes. É que não combinava. Primeiro porque o Manhattan Connection, meu programa favorito, é um programa de paletó e gravata. Segundo porque, mesmo com entrevistados de calções, como jogadores de futebol, os entrevistadores em geral vestem calças. E terceiro porque o Diogo Mainardi não parece ser tão relaxado.

O Diogo Mainardi, pelo menos o da Veja, parece um jornalista feroz, de opinião implacável, cercado de inimigos. Não faz o tipo praiano, nem o que passeia de mão no bolso. Posso ver o Diogo Mainardi da Veja em robe de chambre, bebericando um xerez em sua biblioteca, nunca de bermudas. Mas lá estava ele, com os joelhos expostos.

Verdade que o Diogo Mainardi da TV é outro. É cordato, alegre, até humilde. Mas as bermudas revelaram algo mais a seu respeito. Não entendia o que era. Entendi agora, graças ao escândalo das diretorias do Senado.

Pelo seguinte: muitas vezes discordo do Diogo Mainardi. Em certas oportunidades ele roça a grosseria, como quando atacou o Jorge Furtado. Mas isso não me impede de gostar dele.

Trata-se de um jornalista culto, bem informado e, o principal, independente. Basta-me para valorizar sua opinião. O que me despertava vaga irritação é que, volta e meia, o Diogo Mainardi dava a impressão de querer fazer polêmica pela polêmica. Até que o vi de bermudas na TV.

Foi singelo. Revelou certa inocência do Diogo Mainardi. Saiu para a entrevista vestido como estava em seu apartamento, sem premeditação. Não por irreverência. Ao contrário: porque Diogo Mainardi não está comprometido nem com sua própria imagem. Ainda que tenha sido apenas por casualidade, foi um gesto de desprendida nobreza, neste tempo em que o que mais se valoriza nas pessoas é, justamente, a imagem.

Foi nas informais bermudas do Diogo Mainardi que pensei ao saber das 181 diretorias do Senado. Aquele reduto de gravatas. Senhores comprometidos com sua própria imagem, mas onde fica a seriedade?

Tenho uma receita para atenuar a gastança do Senado: fechem o lugar. É uma instituição supérflua. Muitos países democráticos, como a Inglaterra, não têm Senado. A Câmara dos Deputados é o suficiente para a democracia funcionar.

Claro, funcionaria melhor com menos apreço às aparências e mais à independência. Mas aí é esperar demais dessa gente engravatada.

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