segunda-feira, 16 de março de 2009



16 de março de 2009
N° 15909 - PAULO SANT’ANA


A criação de albergues

O que me chamou a atenção na ótima reportagem que Zero Hora ofereceu a seus leitores na edição de ontem foi que as 4 mil pessoas que são despejadas nos hospitais e clínicas de Porto Alegre em apenas três horas de uma manhã, vindas do Interior, em procissões rodoviárias estafantes, vêm para cá por sua vontade própria.

Muitos dos pacientes poderiam ir buscar consultas e outros tipos de atendimento em outros centros regionais, como Pelotas, segundo disse a reportagem, mas preferem vir para Porto Alegre por considerarem que aqui há maior eficiência e rapidez nos serviços médicos.

Prestem bem atenção os meus leitores. Pela reportagem de ZH, não são as prefeituras do Interior que encaminham os pacientes para os hospitais e clínicas de Porto Alegre: são eles, pacientes, que elegem os hospitais de Porto Alegre como preferidos para seu atendimento.

E o resultado disso é que, em cada um dos cinco dias úteis da semana, são despejadas em Porto Alegre mais de 4 mil pessoas, cerca de 80 mil a 100 mil por mês, alarmando a todos o cortejo maciço de camionetas, micro-ônibus, ônibus etc., que nos fins das madrugadas afluem aos hospitais da Capital.

Resulta daí, inquestionavelmente, em face de que a acorrência em massa dos pacientes do Interior se dirige para Porto Alegre, sendo seletiva a escolha pelo atendimento na Capital, isto é, são os pacientes que preferem os hospitais daqui, que Porto Alegre paga este tributo por causa da excelência dos seus hospitais.

Logo, o estrangulamento, o que se chama de ambulancioterapia, se dá não por um defeito do atendimento médico em Porto Alegre, mas por sua virtude.

Se eu fosse prefeito do Interior, faria o mesmo: se meus munícipes se sentissem melhor em ser atendidos na Capital, iria mandá-los para cá, atenderia às suas vontades, até mesmo porque cabe à prefeitura apoiar o melhor atendimento aos pacientes que lhes são incumbidos.

Evidentemente que o correto será que se criem centros regionais de excelência em atendimento médico que visem à não-concentração dos serviços do Interior na Capital.

Mas, enquanto isso não se verifica, a criação de outros polos de atendimento em cidades mais importantes do Interior, é justo que se reconheça que os pacientes do Interior estão sendo bem atendidos aqui. Se não o fossem, não escolheriam ser atendidos aqui.

O problema maior agora não é médico, é de trânsito. Correm perigo no trânsito os pacientes que se deslocam para cá.

Teriam de ser construídos albergues em Porto Alegre, pelos próprios municípios do Interior ou pelo SUS, que evitassem a pressa e a vigília dos pacientes em suas travessias pelo Estado no rumo daqui, o que precipita os acidentes.

Isso precisa ser feito urgentemente.

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