Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 14 de março de 2009
15 de março de 2009
N° 15908 - DAVID COIMBRA
Ainda está por vir
Eu tenho medo e não aconteceu, eu tenho medo e ainda está por vir, cantava o grande Belchior nos anos 70. Naquele tempo, alguns jogadores do Grêmio não dormiam na véspera dos Grenais. Passavam a noite em claro, zanzando como almas penadas pela concentração, rolando na cama entre suspiros, uns fumando no pátio do estádio. No dia seguinte, o jogo até era duro, mas o Inter raramente perdia.
Lembro de um clássico da época. Estádio meio azul, meio vermelho. O Grêmio vencia por 1 a 0, o Inter precisava do empate para adiar a decisão do turno. Mas o Grêmio jogava melhor, dominava a partida, estava tranquilo. Faltando 15 minutos para o fim, os gremistas começaram a debochar. Gritavam o nome do ídolo do arquiinimigo, considerado a arma secreta do Inter:
– Escurinho! Escurinho!
E não é que o Escurinho se levantou do banco de reservas, ele e Claudiomiro, e foram ambos saltitando para a pista atlética, prontos para entrar em campo? De pronto, a torcida do Inter, até então murcha e lívida, levantou-se nas arquibancadas como se fosse um único homem e entoou seu velho grito de guerra:
– Colorado! Fiufiufiu! Colorado! Fiufiufiu!
E o medo se espalhou pelo lado azul do estádio. O sentimento que perpassou pela alma daquelas 60 mil pessoas era o mesmo, e era claro, quase palpável: aos 45, Valdomiro iria à linha de fundo, iria cruzar na segunda trave e Escurinho faria o gol de cabeça. Pois aos 45, Valdomiro foi à linha de fundo, cruzou na segunda trave e Escurinho fez o gol de cabeça.
Nos anos 90, o contrário. Você ia ao Gre-Nal e sentia o medo que se evolava dos colorados, os torcedores, os jogadores, os dirigentes, todos. Num clássico de 95, Luiz Felipe anunciou que escalaria time reserva – o Grêmio preocupava-se mais com a Libertadores e tal. Mas, quando o time entrou em campo, quem é que estava dentro da camisa azul, preta e branca? Eles: Paulo Nunes & Jardel.
Qualquer um no estádio podia ver o medo pairando feito uma espada sobre a torcida do Inter na arquibancada e eriçando as espinhas dos jogadores no gramado. Ninguém tinha dúvidas sobre o que ia acontecer: o Grêmio venceria com um gol de Jardel. Bem. O Grêmio venceu com um gol de Jardel.
Agora, o Grêmio insinua que o Gauchão não é importante, que vai dar prioridade à Libertadores, que escalará reservas no regional. Sabe o que parece? Parece que o Grêmio não quer se classificar para a final do Gauchão. Não quer. Porque lá, na final, estará o Inter. E de uns meses para cá não há nada, para alguns funcionários do Grêmio, que cause mais pânico do que amealhar outra derrota em Gre-Nal.
Lendas do futebol
Não houve muita evolução no futebol depois do 4-3-3. Nos anos 70, todos os times jogavam mais ou menos como se joga hoje. Dois zagueiros, dois laterais, três no meio, acompanhados de um falso atacante que recua, e mais dois atacantes de verdade. É tudo assim, ou quase assim. Mas os técnicos inventam novidades a cada ano. Lógico: eles precisam justificar seus salários de nababos. Vou contar algumas das tantas que eles inventam:
1. A diferença visceral entre lateral e ala.
Não existe diferença básica. Lateral e ala são tão distintos quanto risoto e carreteiro. Sempre houve laterais mais soltinhos, como Nelinho e Marinho ou o próprio Nilton Santos. Eram chamados de alas? Coisa nenhuma. Só que, como subiam mais, o lateral do outro lado do campo ou um volante os protegiam. Everaldo garantia os avanços de Carlos Alberto na Copa de 70, assim como Roger garantia os de Arce 25 anos depois.
Com três zagueiros, a defesa torna-se mais segura.
Mentira. Com dois zagueiros a defesa fica muito melhor. O zagueiro, normalmente, é um tosco, salvo luminosas exceções como Figueroa, Aírton Ferreira da Silva, Gamarra e Oberdan. Um time é tanto melhor quanto melhores forem seus jogadores. Quanto mais perebas em campo, pior o time – um cálculo matemático, simples e infalível. Assim, menos zagueiros é igual a menos ruins jogando.
Outra: o sistema com três zagueiros só funciona quando pelo menos dois deles têm alguma habilidade: Mauro Galvão, Polga e Marinho funcionou. Assim como Roque Junior, Edmilson e Lúcio. Três grandalhões rebatedores não funciona jamais.
Os jogadores mais importantes do time são os meio-campistas.
Balela. Os jogadores mais importantes são os das últimas instâncias: o goleiro e o centroavante. Um impede o adversário de fazer o gol, o outro faz o gol no adversário. Sem eles, os meio-campistas passam o dia inteiro trocando bola, e o time perde de 1 a 0.
São inúmeras as lendas criadas pelos treinadores. Em breve dissecaremos mais delas.
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