sexta-feira, 13 de março de 2009

13 de março de 2009
N° 15906 - DAVID COIMBRA


O grande PT

O PT é o partido mais importante da história da democracia brasileira. Nem o velho PTB de Getúlio Vargas & Brizola exerceu o papel que um dia cumpriu o PT. O PT significava a política limpa e a ética inegociável, uma novidade no Brasil desde que Pero Vaz de Caminha escreveu que aqui tudo dá, em se plantando.

Foi uma aragem de esperança a soprar no país depois da redemocratização. Ainda hoje, na verdade. O PT não é um partido corrupto. Pelo menos não nos moldes da roubalheira ortodoxa praticada nos escaninhos da República. Raramente vê-se um petista envolvido nesses escândalos tantos.

A corrupção no PT é diferente, não tem por objetivo a locupletação. O petista, se rouba, o faz para alcançar sua meta política. Por ideal, não por ganância. Para o roubado, óbvio, isso pouco importa, mas vale para compreender como funcionam as instituições brasileiras e seus agentes.

O que fez com que o PT perdesse muito do respeito da população e se transformasse quase que num partido fisiológico, como a maioria, não foi a corrupção. Foi a falta de apreço que o PT tem pela democracia representativa. Alguns petistas não confiam na democracia representativa como sistema.

O que gera uma contradição: o PT está dentro do sistema, pertence ao sistema, é um de seus instrumentos, mas nacos do PT às vezes trabalham para solapar o sistema. O povo sente essa incongruência, donde a queda de prestígio do partido.

Um exemplo da contradição que contamina o PT está nas recentes ações da Via Campesina. Agricultoras com o rosto escondido por lenços destruíram plantações de eucaliptos num dia e, noutro, mantiveram dezenas de pessoas em cárcere privado dentro de um banco.

Pelo menos um deputado do PT solidarizou-se com elas, e não foi a primeira vez. Outras ações de depredação da Via Campesina tiveram acompanhamento de deputados, tempos atrás.

As reivindicações da Via Campesina são justas? Provavelmente sim. Como provavelmente são justas as reivindicações daquele rapaz que manteve o presidente da Corsan em cárcere privado, esta semana.

A diferença entre uma ação e outra foi o respaldo que a Via Campesina recebeu de um deputado. Quer dizer: um ato contra a lei foi, de certa forma, apoiado por um legislador.

O PT teria de deixar de apoiar o MST, a Via Campesina ou os trabalhadores em geral? De jeito nenhum. Mas teria de apoiá-los dentro da lei. Dentro do sistema. Não à sua margem. A incoerência corrói o PT pelas entranhas. É insuportável.

Uma pena. A ideia central que o PT passou ao país em seus primórdios, a política limpa, a ética inegociável, essa ideia ainda seria uma aragem benfazeja. Ainda faz falta ao Brasil.

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