quarta-feira, 18 de março de 2009



18 de março de 2009
N° 15911 - PAULO SANT’ANA


O frívolo Clodovil

Não sei se é porque ando muito à flor da pele, mas me comoveu profundamente a morte cerebral do deputado federal Clodovil Hernandes (PR-SP).

Nunca tive qualquer opinião sobre Clodovil, assistia de longe e sem nenhum interesse a seus modos e linguagem excêntricos, pouco se me dava o seu desempenho e o seu destino. Então, por que é que fiquei ontem amassado quando recebi a notícia da morte de Clodovil?

Raras vezes me comoveu tanto a morte de uma pessoa distante como me aconteceu ontem.

O que me terá levado a esta comoção?

Será porque há pouco mais de uma semana assisti a uma sessão plenária do Superior Tribunal Eleitoral em que Clodovil estava sendo julgado por ter trocado de partido, ficando assim ameaçado de perder o seu mandato?

Naquela madrugada, assisti na TV à sessão de julgamento quase por inteira.

E, conforme iam discorrendo os votos expositivos dos ministros do TSE, demorados votos, de vez em quando a TV Justiça dava um close no Clodovil, muito elegantemente vestido, vibrando com as colocações dos ministros a seu respeito, sentado lá nas galerias.

Os votos iam se sucedendo nos lábios dos ministros, todos eles absolvendo Clodovil.

E era de ver-se a alegria de Clodovil, vibrando com os episódios de atritos entre ele e seu partido, que o levaram a fugir da sigla. Os ministros argumentando que o partido abandonara Clodovil em vários episódios, justificando que ele tivesse tomado o gesto extremo de ir buscar guarida em outra sigla.

Mas será que foi por isso que senti ontem me invadir uma onda de compaixão por Clodovil?

Por que será que a morte deste estilista de estranhos modos, língua ferina e desaforada me chocou tanto?

Talvez seja porque Clodovil me inspirou sempre um amor desabrido que ele tinha pela vida, uma consciência de elegância e estética admiráveis, uma alegria em viver e participar intensamente do mundo social.

Talvez seja porque me condói que o destino venha a arrancar da existência pessoas tão dispostas a gozar os prazeres e os gostos mais refinados no período em que vida é bela e apetecida.

Talvez seja porque eu acho injusto que a morte colha os alegres, ela só deveria levar para seu remanso os tristes, os que nada mais têm a aproveitar da existência, aqueles para quem a morte consiste em um alívio.

Confesso que não sei bem por que me arrasou tanto a morte de Clodovil.

É estranho, mas eu não sei como ontem entendi que Clodovil ainda tinha tanto para contribuir a um mundo que precisa tanto do bom humor, da cordialidade. E também da frivolidade. Não sei, mas foi triste. Certamente porque a irreverência de Clodovil era necessária.

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