Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 23 de março de 2009
MOACYR SCLIAR
Erro fatal
Você poderia ter dito que meus seios, como os cabelos, eram maravilhosos. Mas não, você tinha de fazer uma comparação
Na hora de terminar o namoro, adolescentes apelam para ferramentas da internet e evitam o cara a cara. Uma pesquisa da loja virtual de presentes Lovehearts confirmou que a nova geração está mesmo usando a internet também para dar um fora. Jovens de até 30 anos responderam a um questionário on-line sobre como lidam com seus relacionamentos no mundo virtual.
O resultado mostrou que 20% da galera entre 22 e 30 anos já fizeram uso de algum mecanismo virtual para terminar um relacionamento. Já entre os menores de 21, o número é ainda maior: 48% já deram ou levaram um pé na bunda on-line. Folhateen, 16 de março de 2009
"PREZADO JORGE ONLINE (estou usando o apelido que você próprio se deu), este e-mail tem por finalidade avisar que nosso namoro acabou. É isto mesmo: acabou. E faço esta declaração, Jorge Online, da maneira que me parece mais adequada, em se tratando de um cara com você: on-line. Não pense você que me dá prazer agir desta maneira. Ao contrário.
Sou uma garota conhecida pela franqueza, por dizer as coisas diretamente para as pessoas, olho no olho, sabe como é? Mas você fez com que eu mudasse. Por causa dessa sua mania por computador e internet.
Entenda bem: nada tenho contra o computador e a internet. Sei perfeitamente que em nosso mundo não dá para sobreviver sem estas coisas. Mais: muito cedo meus pais me introduziram à informática.
Aprendi o que tinha de aprender: mandar e-mails, fazer pesquisas para a escola. Nunca me saí mal nessas tarefas, mas não era fanática.
Você, não. Você vivia para o computador e para a internet. Você não falava em outra coisa, aliás você não falava, preferia mandar e-mails (muito mal redigidos, por sinal).
E o pior é que você insistia para que eu fizesse o mesmo, que entrasse no universo on-line e dele não saísse mais. Que nos comunicássemos exclusivamente por e-mails, esse era o seu sonho.
Tentei. Bem que tentei. Porque eu gostava de você, Jorge Online. Eu gostava muito de você, achava até que viveríamos juntos para sempre. Mas então, perguntará você, talvez magoado, talvez muito magoado, por que está acabando o nosso relacionamento?
Está acabando, Jorge Online, por causa de uma coisa que você disse. Melhor: por causa de um e-mail que você me mandou.
Era um e-mail muito apaixonado, Jorge Online. Você dizia que eu era a sua deusa, a garota mais bonita que você já tinha conhecido. Você dizia que meus cabelos eram maravilhosos, que meus olhos eram maravilhosos, que meus lábios eram maravilhosos. Confesso que até aí eu estava arrebatada, tão emocionada que as lágrimas me corriam pelo rosto.
Mas aí você cometeu o erro fatal, Jorge Online. Você ia descendo, como eu disse: os cabelos, os olhos, os lábios, o pescoço... E aí você chegou aos seios.
Você poderia ter dito que meus seios, como os cabelos, os olhos e os lábios, eram maravilhosos. Mas não, você tinha de fazer uma comparação, uma maldita comparação. Você disse que meus seios eram como dois mouses, que clicando neles você descobria um mundo de desejo. Mouses, Jorge Online? Mouses?
Essa não. Fica com teus computadores, fica com teus mouses, e me esquece. Comigo você não se conecta mais. Você cometeu um erro fatal, Jorge Online, e será desligado. Desligado de minha vida, e para sempre."
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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