segunda-feira, 23 de março de 2009


FABRICIO VIEIRA - DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores ainda fogem da poupança

Processo de queda de juros pode favorecer a aplicação, mas por enquanto o que se vê é fuga de recursos da caderneta

Investimento tem saques líquidos de R$ 884 mi neste mês até o dia 16 e teve em fevereiro um dos menores ganhos da história, de 0,54%

Em meio à discussão sobre os riscos de os investidores migrarem dos fundos para a caderneta de poupança, devido à maior atratividade da aplicação, o que se vê hoje no mercado é outra realidade. Tanto neste mês quanto no acumulado do ano, a poupança sofre com saques de recursos, enquanto os fundos atraem investidores.

Em março, até o dia 16, a poupança registra saques líquidos de R$ 884 milhões, sendo, por enquanto, o mês mais fraco desde abril passado. No ano, a captação líquida (diferença entre saques e aplicações) está negativa em aproximadamente R$ 620 milhões, segundo dados do Banco Central.

Ao menos por enquanto, os fundos ainda mantêm a preferência dos investidores. No ano, o mercado de fundos registra captação positiva de R$ 9,49 bilhões. No mês, até o dia 16, a entrada de recursos nos fundos alcança R$ 4,61 bilhões.

"Mas vejo uma ameaça de migração de recursos dos fundos para a poupança em um futuro próximo. Como espera-se que a taxa Selic prossiga em queda, os ganhos dos fundos vão encolher e diminuir sua competitividade em relação à poupança. Se isso não começou a ocorrer ainda, o risco é eminente", diz Mauro Calil, professor e educador financeiro.

A poupança teve em fevereiro um de seus menores retornos da história. Com rentabilidade de 0,545%, aproximou-se de sua mínima histórica, os 0,524% pagos em fevereiro do ano passado.

Naquele período, o governo fez exatamente o inverso do que se espera que faça agora: tomou medidas para garantir que os ganhos da poupança fossem de ao menos 0,5% ao mês.

Como a poupança tem esse piso de 0,5% ao mês e os fundos, não, o impacto da continuidade da queda da taxa básica de juros não poderá ser evitado. Um dos grandes problemas enfrentados pelos fundos é a cobrança de IR e de taxa de administração, que não incidem sobre a poupança. Ou seja, a rentabilidade líquida dos fundos -computada após os descontos de taxas e impostos- pode ficar abaixo do que é oferecido pela poupança em breve.

Apenas a taxa de administração consome uma parcela que pode ser bem elevada do retorno de um fundo. Essa taxa costuma oscilar entre 1% e 4% anuais. Com os juros a 10% (ou menos que isso) daqui a alguns meses, como projeta o mercado, o impacto da taxa de administração vai ser ainda maior.

"O pequeno investidor não se preocupa muito com essas contas. Mas os grandes, sim. E o problema vai surgir quando esses grandes aplicadores resolveram trocar os fundos pela poupança", afirma Calil.

Uma migração desembestada dos fundos para a poupança não interessa nem aos bancos nem ao governo. Para os bancos, uma das perdas viria da diminuição dos ganhos com taxa de administração. Para o governo, os fundos são importantes por serem grandes compradores de títulos públicos.

"Quando a taxa Selic estava em 12,75%, os fundos ainda mantinham-se mais atrativos que a poupança. Mas com a taxa básica nos atuais 11,25% a situação começa a mudar. O governo está correto em se preocupar e buscar uma maneira de mexer com a rentabilidade da poupança", avalia a consultora de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.

Com a taxa Selic em 11,25% ao ano, os fundos DI ou de renda fixa que cobram uma taxa de administração acima de 2% já começam a perder para a poupança.

Segundo uma simulação feita pelo economista José Dutra Vieira Sobrinho, atualmente o rendimento da caderneta está em 0,58% ao mês, enquanto um fundo que cobre taxa de administração de 2,5% oferece retorno de apenas 0,55%.

A comparação considera que incide sobre a rentabilidade do fundo a cobrança de 20% de IR. Caso a Selic caia para 10,25% ao ano no mês que vem, quando o Copom volta a se reunir, só fundos com taxa de administração de, no máximo, 1% continuariam ganhando da caderneta.

Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ, da Sucursal de Brasília

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