sábado, 14 de março de 2009



15 de março de 2009
N° 15908 - VERISSIMO


A lógica

H oje, o Apostador reconhece que deveria ter desconfiado do homenzinho que lhe vendeu a máquina do tempo. Na hora, ele só pensara na vantagem que teria um apostador que fosse transportado para o futuro e pudesse ler, nos jornais, o resultado da loteria, o azarão que dera no jóquei, a zebra que dera no futebol. Com a máquina do tempo ele poderia acertar a Sena todas as semanas! Era vantagem demais. Ele deveria ter desconfiado.

O homenzinho também vendia pomadas afrodisíacas que deixavam qualquer homem irresistível às mulheres, pinturas do Van Gogh autênticas com selo de garantia, camisas Lacoste tão falsas que o jacarezinho aparecia piscando um olho – mas o Apostador não desconfiara. Estava tão animado com a perspectiva de só apostar no certo que comprara a máquina do tempo sem pensar. Depois, para se justificar, o Apostador disse:

– Na verdade, apostei que a máquina funcionaria.

A máquina não funcionou. Ou funcionou, mas não como o homenzinho prometera e o Apostador esperava. Quando o Apostador entrou na máquina e apertou o botão que o transportaria no tempo, ouviu um estrondo e quando viu estava não no futuro, mas no passado. Nos tempos bíblicos. Notou que eram bíblicos porque havia muita poeira e todo o mundo falava engraçado.

– E para o cúmulo do azar - contou - caí no meio de uma batalha.

– De uma batalha?

– É. Lá estava eu num campo de batalha, entre dois exércitos prontos para lutar. Um liderado por um gigante, outro por um garoto.

– O que você fez? – Me misturei com a torcida para assistir.

No meio da torcida o Apostador não demorara a encontrar pessoas dispostas a apostar.

– Mas aceitaram o seu dinheiro? – Como não conheciam o Real, achavam que valia alguma coisa.

Aceitaram. – Que sorte! Foi como se você tivesse caído no Maracanã, antes de começar a final da Copa de 50. Com a informação que tinha, era só apostar no Uruguai e você também ficaria milionário.

– Eu não fiquei milionário. Perdi tudo.

– Mas como?

Resolveram que a batalha seria decidida num duelo entre os líderes dos dois exércitos. O gigante contra o garoto. O gigante armado até os dentes e o garoto só com um estilingue. Apostei no gigante, claro.

– O quê? Você apostou no Golias contra o Davi?!

Então o Apostador deu um tapa na testa e exclamou:

– Davi e Golias! Como foi que eu não me lembrei?

Apostara na lógica e perdera tudo.

Mas, filosofou o Apostador, fora melhor assim. Se ganhasse a aposta seria pago com mirra, incenso e 117 ovelhas, que não caberiam na máquina.

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