Quem fala do Sul, não fala de suas cidades. As cidades renderam-se ao anonimato contemporâneo e modular. Quem fala do Sul, fala de seus espaços abertos, fala da serra, do litoral, do planalto, do pampa.
Nossa alma está nos primórdios da Criação, nesse estado de graça elementar e fundadora. E todos os primórdios de algo trazem a marca da verdade: o pampa é a largura e a profundeza épicas; o planalto são as crepitações do verde; o litoral é o domínio da paz melancólica; a serra é o espaço do drama.
A paisagem sulina vai além de sua presença atual; a paisagem é nossa transcendência; humaniza-se lá, no passado, nos indígenas, nos povoamentos, nas imigrações, nas guerras e levantes.
O Sul é uma geografia que só pode ser contemplada a partir da história.
Isso ocorre porque uma paisagem não existe por si mesma. Ela é desenhada por quem a vê. Está dentro de nós, em nossas múltiplas experiências, em nossas leituras, em nosso caderno de sensibilidades, em nossa vida pregressa: peçam a um agricultor que descreva o campo; depois, a um fotógrafo.
Uma paisagem só acontece quando nos embebemos de nossa cultura. Por isso a paisagem do Sul é singular: são nossos olhos, desde o passado, que a desvendam e que a constroem.
E essa essencial fundação, para nossa honra e assombro, só existe aqui. Só aqui somos alguém. Mesmo entre quatro paredes, essa geografia mítica vive dentro de nós. E é ela que aumenta nossa vida para além dos tempos.
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