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sexta-feira, 20 de março de 2009
20/3/2009
Jaime Cimenti
A curiosidade pelo sexo e a deflagração do amor
O roteirista, diretor de teatro e de televisão e romancista italiano Andréa Camilleri está consagrado por obras de sucesso de crítica e de público, por numerosos prêmios literários importantes e, sobretudo, por ter criado o legendário comissário Montalbano, um dos mais ilustres detetives da moderna literatura policial, ao lado de Sam Spade e Phillippe Marlowe.
No romance A pensão Eva, há poucos dias lançado no Brasil, Camilleri desenvolve, principalmente, o lado mais literário de seu talento.
Na pequena Vigáta, cidade natal da Montalbano, na Sicília, lá pelos fins da década de 1930, três meninos começam a descobrir o sexo, as mulheres e a vida na pensão Eva, que acabava de ser promovida da terceira para a segunda categoria.
O estrondo dos bombardeios devolve ao velho cavaleiro Calcedonio Lardera o ímpeto da antiga virilidade na companhia de Teresa Biagiotti. Conhecida como Tatiana, a prostituta comunista é capaz de esconder um medalhão com a imagem de Stalin em lugares insuspeitos.
Homens casados e solteiros, velhos e jovens, nobres e cavalheiros, todos acorrem ao tradicional bordel da cidade para se deliciarem nos braços de Emanuela Ritter, "a alemã", ou Maria Stefani, "a loba", e esquecer, em meio a sexo, jogos e bebidas, os horrores do fascismo e da guerra.
É também na pensão Eva, que Nené, de 12 anos, vai sentir, pela primeira vez, o perfume de canela, noz-moscada e laranja das meninas. Em companhia de Ciccio e Jacolino, o garoto descobre "detalhes" da vida adulta totalmente novos. A cada quinze dias, as seis "meninas" da pensão partem e outras seis chegam. Em meio à realidade e à poesia, os meninos vão aprendendo alguma coisa sobre a vida e o mundo.
Camilleri, nascido em Agriento em 1925, já foi editado em muitos países e vendeu mais de três milhões de exemplares. Nesta narrativa, um verdadeiro romance de formação, a curiosidade sobre o sexo acaba por encerrar-se na deflagração do amor, que é muito mais poderoso do que a morte e está destinado a deixar no ar o rastro de seu perfume.
Andréa Camilleri demonstra que as antigas casas de "tolerância" não se resumiram apenas a constituir um espaço proibido, palco de façanhas eróticas e cenário de brincadeiras. Nos corredores do velho casarão outros sentimentos e histórias aconteceram e ficaram na memória.
Diz, meio ambíguo, que o texto não é autobiográfico, mas refere que a pensão Eva realmente existiu e que ele, quando menino, também era chamado de Nenê. Tradução de Andrea Ciacchi, 160 páginas, R$ 25,00. Editora Record, telefone 21-2585-2000.
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