quarta-feira, 25 de março de 2009



25 de março de 2009
N° 15918 - SERGIO FARACO


Cérebros

A cada manhã, ao ligar o computador, encontro dezenas de mensagens enviadas ao endereço inserto no cabeçalho da coluna. São comunicados urgentes da Receita Federal, que apontam irregularidades em minha última declaração de renda; do Bradesco ou da Caixa, que solicitam meu recadastramento sob pena de me fecharem a conta; das Casas Bahia, avisando que a encomenda foi expedida, ou de certa Patrícia, anexando fotos nas quais, garante, ela se refresca nua em pelo.

E por aí vai.

O remetente, além de mal-intencionado, é um bocó, ou por outra, duplamente bocó, por pensar que os outros o são tanto quanto ele.

Tamanha é minha curiosidade acerca desse atraso mental que decidi conhecer o tipo de cérebro que dele padece. Para tanto, consultei dois renomados sábios da Mongólia. Bah, que frustração, em nada me socorreram seus laudos conflitantes. De resto, parece-me que incorreram numa espécie de aberratio ictus. Ou seja, erraram o alvo.

Diz um dos sábios:

“Indivíduos com tais características são tão raros na Mongólia quanto comuns em certas planícies áridas da África e da Arábia. Tem geração peculiar. Fecundado no ventre materno, o óvulo cria uma carapaça que se enrijece com o progresso da gestação.

Quando nasce, não nasce, isto é, o que irrompe é um senhor ovo, uma bocha branca. Após a chocagem, finalmente vem ao mundo o sobredito. A forma é humana. Cérebro, o do estrutionídeo, que os rústicos conhecem por avestruz.”

Diz o outro:

“Indivíduos da espécie indicada têm cérebro de dimensão compatível com o crânio humano, mas sua constituição difere ligeiramente da normalidade. No crisol, apresenta 15 por cento de pó-de-mico, 15 por cento de ri-do-rato e 20 por cento de maizena.

O outro hemisfério se compõe de matéria excremental em ebulição ou efervescência, donde surgem, como bolhas, os pensamentos, as ideias e, enveredando pelos canais competentes, o popular cocô. Na Mongólia são considerados animais sagrados e andam no meio do povo como as vacas da Índia.”

De ambos descreio.

Estou inclinado a pensar que essas descrições não remetem ao bocó e sim àquelas pessoas que o fiscalizam ou deveriam fiscalizá-lo, pois é certo que, como eu, elas recebem as mal-ajambradas e delituosas cartinhas da Receita Federal, do Bradesco, da Caixa, das Casas Bahia ou da despilchada Patricinha.

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