sábado, 14 de março de 2009



15 de março de 2009
N° 15908 - PAULO SANT’ANA


A doninha e a lebre

Ontem, eu perguntei se a maldade humana que se espelha em todos os atentados noticiados diariamente pela imprensa eram fruto da natural perversidade da criatura humana ou estávamos vivendo apenas uma época especial em que de repente aflorou na civilização a índole perversa do homem.

Mas aí me lembrei de que, até a Revolução Francesa, o grande monumento de liberdade e de garantia dos direitos individuais, em 1789, a lei francesa admitia, a exemplo de outros países destacados na época, a tortura e o suplício como métodos de apuração penal.

Ou seja, qualquer pessoa acusada de crime poderia ser submetida à tortura e ao suplício pela polícia, com o que fatalmente confessaria tudo que lhe tivessem imputado.

E a confissão naquele tempo era considerada pelo Direito Penal como “a rainha de todas as provas”.

Isso foi há 220 anos, um caos.

De lá para cá, o mundo civilizado evoluiu, foi erigida a ampla defesa para os acusados de qualquer crime, há a presunção de inocência até a condenação. Perto do que acontecia há dois séculos, a Justiça aperfeiçoou-se.

Mas continuaram a proliferar as injustiças e os bárbaros ataques às garantias individuais nos países dominados por regimes autoritários, as chamadas ditaduras.

Até o país que é considerado a maior democracia do mundo, os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, cometeu a maior heresia penal há uns cinco anos: criou uma lei que autorizou o Exército e a polícia a “usar métodos especiais em interrogatórios de acusados de terrorismo”. Em suma, a tortura.

Era a forma de os EUA lidar com o Iraque e o Afeganistão.

Surgiram então os escândalos de torturas nas prisões do Iraque e de Guantánamo.

Como se vê, o homem sempre foi mau, sempre foi cruel, sempre foi e é perverso.

E, acima de tudo, a sociedade humana sempre foi injusta.

A respeito disso, tem uma história que gosto muito. No auge da Cortina de Ferro, uma doninha e uma lebre encontraram-se na fronteira da União Soviética, de onde a lebre estava fugindo.

A doninha perguntou à lebre por que ela fugia da URSS. A lebre respondeu que era porque mandaram prender todos os camelos.

A doninha disse: “Ué, mas você não é camelo!”.

E a lebre respondeu: “Mas como é que vou provar isso?”.

Ou seja, a maldade e a injustiça existiam no tempo de Gengis Khan e sobrevivem até os tempos modernos.

Não são as épocas as culpadas, o culpado é um só: o caráter do homem.

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