sexta-feira, 25 de julho de 2008


Juremir Machado

ENFIM, UMA ATITUDE

Confesso que eu já estava entediado. Mais de uma semana sem um novo escândalo. Ao menos, de grandes proporções. Nenhuma operação Satiagraha para comentar.

A Polícia Federal, durante mais de sete dias, não prendeu banqueiro algum. Muito menos um político. O presidente do STF, nesse longo tempo, não soltou figurão algum. Que saco!

Fiquei acompanhando, por falta de opção, a rodada de Doha, essa em que o ministro Celso Amorim disse uma 'verdade nazista' – uma mentira repetida vira verdade – sobre as manipulações do liberalismo protecionista dos ricos contra os pobres e foi desmentido pela representante dos Estados Unidos fazendo beicinho.

Estava certo o ministro. Afinal, uma verdade não dita vira mentira. Essa rodada de Doha é uma po... porcaria!

A lógica de europeus e norte-americanos é compreensível e justa: nós abrimos os nossos mercados aos produtos deles, que fecham os deles aos nossos ou nos impõem cotas ridículas.

Faz sentido. Eles precisam proteger com subsídios e barreiras o trabalho dos seus produtores. Nós, não. Os nossos estão acostumados a não ter proteção alguma. Os deles, frágeis, não possuem anticorpos e necessitam de forte apoio estatal.

O Estado mínimo dos ricos sempre tira o máximo de proveito nas negociações com os pobres em benefício daqueles que compreenderam há muito que o Estado não deve se intrometer em negócios privados, salvo para garantir-lhes lucros e forçar os renitentes a aceitar a regra do jogo.

Em Doha, a turma de Bush faz o papel que critica em Evo Morales, Hugo Chávez e outros intervencionistas radicais. Deve ser conseqüência do porre do mercado denunciado pelo próprio Bush. Agora ficou claro: o mercado é alcoólatra.

Pois é, nesta semana de tédio, sem qualquer inocente morto pela Polícia carioca (ou se tornou tão banal que não prestei atenção ou nem foi noticiado), sem operações espetaculares da PF e sem habeas corpus ainda mais espetaculares do STF, a frase mais sensacional foi do jogador Gustavo Néri, contratado pelo Inter, feliz 'pelo acerto com o Grêmio'.

Esse aí tem tudo para fazer carreira política depois da aposentadoria. Se duvidar, chega à Presidência da República. Ainda bem que o Banco Central aumentou em 0,75% a taxa Selic. Em contrário, nada de realmente emocionante teria havido no período.

Estava me inquietando a falta de providências, exceto afastar um delegado abelhudo aqui, ameaçar um juiz topetudo ali. A minha questão era: será que ninguém vai tomar providências para melhorar o Brasil?

Ou: será que ninguém vai mostrar atitude, coragem, caráter, moral? Saiu a lista suja dos candidatos. Seria essa a providência esperada, o começo de uma nova época, o princípio do novo? Sim e não. É uma boa medida. Mas, na verdade, ninguém se impressionou muito com ela.

Eu já procurava mais informações sobre Doha, desiludido com essa falta de novidades e de determinação contra tanta cachorrada, pronto para uivar contra o capitalismo selvagem, quando chegou a bomba, a notícia inesperada e capaz de redimir o Brasil caso ainda dê tempo. Um golpe na indiferença e no cinismo.

Um exemplo de comprometimento, de não passar ao lado ou fingir que não viu. Em Minas Gerais, uma cadelinha armou o maior banzé, latiu até ficar rouca, empurrou uma caixa com o focinho e salvou da morte um recém-nascido. Enfim, uma atitude.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana para todos nós

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