terça-feira, 29 de julho de 2008



TELHADO DE VIDRO

A política é uma atividade de alto risco. Um leigo como eu tem dificuldade para entender como alguém pode candidatar-se a um emprego, renovável a cada quatro anos, tendo de despender para obtê-lo muito mais dinheiro do que poderá recuperar legalmente sob a forma de salário.

Tem algo que não bate na lógica eleitoral. Sei que existem modalidades previstas de financiamento de campanha. Mas como aprendi que não existe almoço gratuito, algo que comprovo todos os dias, quem mete a mão no bolso só pode esperar algum retorno.

Onde termina o retorno legal e começa o ilegal, ou quase, é que é o grande problema. Mas se digo que a política é uma atividade de alto risco é por acompanhar o noticiário com atenção republicana e esmero profissional. Todo dia tem político envolvido com problemas de justiça ou mesmo de polícia.

O texto da revista Veja sobre a casa da governadora Yeda Crusius me obrigou a pensar. Não é todo dia que isso acontece. Claro que também não há garantia de que disso resulte algum benefício social.

Nem sequer individual. Atirar pedra no telhado da casa alheia parece fácil, mas, em geral, quebra vidraça e acaba em barraco, mesmo quando o imóvel tem mais jeito de mansão que de habitação popular. Não sei quanto custou a residência da governadora nem se existe de fato algo de ilícito na operação. Longe de mim sair por aí desconfiando de quem quer que seja.

Eu me limito a ler os jornais e as revistas. Acredito na seriedade da mídia. Se ela diz que teve mensalão no governo federal, eu aceito. Como poderia duvidar? Se diz que o Detran foi saqueado, acato.

A revista Veja marcou pontos positivos. Não por ter denunciado uma ilegalidade na aquisição da residência da governadora, que tem todo direito de querer morar melhor. Nem a publicação afirma isto ou aquilo.

Apenas busca explicações. Quem tem janelas públicas, todos sabem disso, precisa exibir transparência privada. Logo, vez ou outra, passa pelo dissabor de ter de conceder alguns esclarecimentos. Veja marcou pontos por mostrar que não atira pedra só para um lado.

Apontou seu estilingue para o ninho tucano. Até agora essa era uma fortaleza protegida como um condomínio de luxo e preservada de certas baixarias consideradas, por preconceito, claro, como exclusivas das periferias mais escancaradas e bastante habituadas a chuvas e trovoadas a céu aberto.

Pelo jeito, ninguém mais está a salvo em sua casa própria. Nem a própria casa. Corre-se o risco de bala perdida, fogo amigo e cobranças legítimas ou indevidas. Tem gente que só fica em casa com habeas corpus.

Assim como tem quem nem ponha o corpo para fora com medo de ser intimidado a lavar roupa suja em praça pública. Sem dúvida, a política virou a casa da mãe-joana. Não se espantem se ela também tiver de abrir as portas para a Justiça.

A coisa anda tão séria que alguém bolou esta chave para dar conta da realidade brasileira: o horário eleitoral é o único momento em que os ladrões estão em cadeia nacional. Não façam associações ilícitas. Não estou falando de quadrilhas, mas de conclusões apressadas. Tem político honesto.

Só que é uma turma caseira. Quem tiver dúvida, por favor, não atire a primeira pedra. É fundamental conservar a ordem. A vida não é um tribunal de faz-de-conta. É conta para pagar.

A mais cara é a da casa própria, esse velho sonho da população. Salve-se quem puder. A casa está pegando fogo.

juremir@correiodopovo.com.br

Chove torrencialmente ainda, mesmo assim, que tenhamos todos uma ótima terça-feira.

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