segunda-feira, 14 de julho de 2008



14 de julho de 2008
N° 15662 - Luis Fernando Verissimo


Outra carta da Dorinha

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, lidera um grupo, as Socialaites Socialistas - Tatiana ("Tati") Bitati, Suzana ("Su") Perficial, Jussara ("Ju") Juba, Cristina ("Ki") Bobagem e outras - , que luta pela implantação no Brasil do socialismo soviético na sua fase mais avançada, que é a restauração do czarismo.

Inclusive descobriram um garçom na Penha descendente dos Romanov, que concordou em ser czar desde que conte tempo para o INPS e estão preparando para o cargo com aulas de etiqueta, danças de salão e despotismo.

Mas hoje, segundo Dorinha, a palavra que melhor descreve o grupo é "tremebundas". Mesmo as que fizeram lipo. Mas deixemos que ela mesmo nos conte a razão do nervosismo.

Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta violeta em papel turquesa encabeçado pelo seu nome em relevo com um espaço em branco para o sobrenome do marido do momento, se houver. Mas desta vez com a letra trêmula.

"Caríssimo! Beijos sombrios. Estamos preocupadíssimas. Como você sabe, deve-se tomar algumas precauções para viver no Brasil com um mínimo de tranqüilidade para a nossa prataria.

Quase todas moramos em andares altos, de onde se pode sinalizar diretamente para a Quarta Frota americana, se for o caso. Mas o que nos ameaça agora não é a massa arrombando a porta, chutando nossos cachorros com grife e levando nossas roupas com pedigree - é a polícia!

Um dos meus maridos, cujo nome me escapa no momento, dizia que não há maior ameaça à paz social do que uma polícia íntegra e, pior, exibida. E a polícia está prendendo gente como a gente, numa escandalosa inversão de critérios!

Nunca se viu isso no Brasil. Onde ficam os velhos valores? Onde fica o respeito? Mais importante: que roupa pode ficar bem com algemas na TV? Uma das nossas companheiras, Constância ("Cocó") Ricó, sugere que se olhe o lado bom da coisa.

(Foi Cocó quem nos convenceu a descer do avião que nos levaria para Miami depois da eleição do Lula com a notícia de que o Meirelles iria para o Banco Central e não havia nada a temer).

Ela diz que, já que estaremos todas fatalmente em alguma lista do Dantas, poderemos ficar juntas numa cela e começar a reforma do sistema carcerário brasileiro por dentro, nem que seja só com alguns retoques na decoração.

E, mesmo se não conseguirmos, é certo que haverá uma grande melhora nas prisões do país, para receber a nova e exigente clientela. E que ela quer ver falarem mal da elite brasileira depois.

Sei não. Só quero saber se vão deixar eu levar a bolsa de água quente (Vuitton) que comprei para substituir meu último marido. Beijo, talvez o último em liberdade, da sua Dorinha."

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