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quarta-feira, 16 de julho de 2008
16 de julho de 2008
N° 15664 - Sergio Faraco
O ocaso da lealdade
A amizade é um belo sentimento, certamente o mais sublime, mais perfeito. Ao contrário do amor, sempre é recíproco. Se não é recíproco, amizade não é, mas outra coisa que atua numa só direção, tão dispensável que nem nome tem.
A ficção nos oferece alguns exemplos de amizades, como a de Aquiles e Pátroclo, personagens de Homero; Orestes e Pílades, personagens de Ésquilo; Niso e Euríalo, personagens de Virgílio.
A vida real também, haja vista o sentimento que, no século XX, uniu dois antropólogos, o francês Paul Rivet e o alemão Franz Boas. Eles nutriram intensa correspondência ao longo de 30 anos e tiveram um único encontro pessoal, em 1942, quando Rivet, fugindo da França ocupada, visitou Nova York, onde Boas residia.
O francês ofereceu ao alemão um almoço, ao qual compareceram discípulos de ambos e amigos comuns, e fez uma breve alocução para exaltar aquela amizade que se iniciara no amor à ciência e vinha rompendo todas as barreiras, inclusive duas guerras entre seus países.
O episódio é evocado por alguém que estava presente naquela confraternização, o educador brasileiro Paulo Duarte, em seu prefácio à tradução dos poemas do italiano Trilussa. Boas quis agradecer. Ele se ergueu e, logo ao pronunciar as primeiras palavras, "meu querido Rivet", tombou, fulminado pela emoção.
Hoje são raras as grandes amizades.
Há amigos ocasionais, a amizade útil de que fala Aristóteles em sua Ética, uma relação de afeto com o outro enquanto ele te acompanha em dada circunstância, depois cada um segue seu caminho, e careces da lanterna de Diógenes para encontrar o amigo com o qual possas compartilhar teu padecimento e mesmo tua alegria, que sempre é mais difícil de engolir:
"Como é amargoso contemplar a felicidade pelos olhos dos outros", exclama um personagem de Shakespeare em Como gostais.
No DNA dessa escassez pululam as moléculas do egoísmo, da inveja, do rancor, daí uma prática que parece ser própria não só da falsa amizade, mas das relações interpessoais no trabalho, no esporte, nas artes, na política e em todas as atividades do homem em sociedade: a deslealdade.
Passou a ser natural alguém tentar te prejudicar por não ser possuidor do que possuis. Os meios para se conseguir algo, conquanto representem uma traição, já não fazem mossa na reputação de ninguém. Isto aqui, claro.
Garante o velho Borges, num dos ensaios de Otras inquisiciones, que na Argentina é diferente: para o argentino, o fulano que se aproveita da confiança de alguém para depois entregá-lo à polícia não passa de "um incompreensível canalha".
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