domingo, 20 de julho de 2008


MÔNICA TARANTINO

Esperança para a tireóide

Estudo revela que o mineral selênio pode retardar e até evitar a tireoidite crônica, doença comum depois da gravidez



As doenças da tireóide estão aumentando. Duas em cada dez mulheres já passaram por exames para avaliar o ritmo de trabalho da glândula ou examinar nódulos.

E pelo menos uma delas se descobrirá portadora de tireoidite crônica, uma das alterações mais comuns. A doença ataca homens e mulheres, mas costuma se manifestar com mais freqüência durante e depois da gravidez, como mostrou um estudo da endocrinologista Maria Fernanda Barca, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Nestas situações, por motivos ainda desconhecidos, o sistema de defesa do organismo é levado a fabricar anticorpos para combater a própria glândula, como se ela fosse um órgão estranho. Atacada, ela se inflama e há uma queda na produção de hormônios.

É o que os especialistas chamam de tireoidite pós-parto, e que pode se tornar permanente em metade dos casos. Alguns dos seus principais sintomas são o cansaço, aumento do colesterol, depressão e alterações da pressão arterial.

O mais recente avanço nesse campo foi divulgado há um mês por um grupo de cientistas liderado pelo italiano Roberto Negro, durante o congresso da Sociedade Americana de Endocrinologia, em São Francisco, nos Estados Unidos. Negro provou que pequenas doses de selênio (200 microgramas), um potente antioxidante, podem retardar e até evitar a doença em algumas mulheres.

Das 2.143 gestantes que participaram do trabalho, 169 manifestaram sinais de que o organismo já tinha começado a fabricar os anticorpos contra a glândula. Desse grupo, uma parte recebeu doses do mineral e outra não. De acordo com o estudo, o uso do mineral durante 12 meses foi suficiente para diminuir em três vezes as chances de conviver com a doença depois do nascimento do bebê.

"O efeito se deve à capacidade do selênio de proteger a glândula da oxidação causada, em parte, pelo processo inflamatório", disse Negro à ISTOÉ. Cauteloso, ele afirma que o resultado da pesquisa não se aplica a todos os casos. "Mais estudos são necessários", diz.

As conclusões do estudo abrem uma nova perspectiva de prevenção, segundo a endocrinologista Fernanda Barca, da USP.

"Os bons resultados obtidos com selênio são a primeira boa notícia sobre tireoidite depois de mais de dez anos sem avanços", diz a especialista. Uma das pacientes que em breve começará a tomar doses do mineral junto com a reposição de hormônios tireoidianos é a administradora Amanda Freire, 25 anos, de São Paulo.

Ela descobriu que tinha problemas de tireóide porque não conseguia emagrecer e se sentia irritada. "Seguia a dieta, mas não conseguia perder quatro quilos. Foi então que meu namorado me sugeriu ir ao médico", diz Amanda, que faz reposição hormonal com comprimidos há um ano.

A possibilidade de usar selênio é uma gota de esperança em uma área que carece de recursos para controlar as formas mais resistentes da doença. Em alguns casos, ela evolui apesar do tratamento. Foi o que aconteceu com a enfermeira Cláudia Tomasso, que começou a sentir tonturas e taquicardia após o nascimento do segundo filho.

Cinco anos depois, as manifestações eram ainda mais intensas e foram detectados nódulos. "A médica me explicou que a tireoidite é um fator de risco para quem tem nódulos.

A doença aumenta o risco de eles se transformarem em câncer, o que ocorreu comigo. Por isso, fiz a cirurgia que remove a tireóide", conta.

A medicina tem estudado as razões da elevação do número de casos de tireoidite crônica.

Uma das explicações, para alguns especialistas, é a realização de mais exames. "Além dos endocrinologistas, os clínicos gerais e médicos como eu incluíram exames de tireóide na rotina das pacientes", diz Tânia Santana, coordenadora do Ambulatório de Sexualidade do Hospital Brigadeiro, em São Paulo.

A medida é aplaudida pelo endocrinologista Geraldo Medeiros, consultor do Ministério da Saúde e autoridade no assunto. "No Japão, os exames de tireóide já são obrigatórios durante a gravidez. Aqui deveriam ser também", diz ele.

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