sexta-feira, 25 de julho de 2008



25 de julho de 2008
N° 15673 - Paulo Sant'ana


Um crime hediondo

Foi uma das maiores vitórias dos 104 anos de história do Grêmio.

Porque assumiu a liderança absoluta do Brasileirão, porque tem a defesa menos vazada do campeonato, porque ficou a apenas um gol do ataque mais positivo e porque limpou uma escrita de muitos anos de superioridade do Figueirense sobre nós. O adjetivo para qualificar uma vitória tão maiúscula e surpreendente é só um:

INACREDITÁVEL!!!!!!!

Na semana retrasada, uma jovem de 27 anos foi seqüestrada diante de sua residência, no bairro Glória, na Capital, por um homem armado que a fez embarcar no carro dela e fugiu com a moça em seu poder.

Após ouvir o relato do assalto, que se somava às centenas de assaltos relâmpagos, lembro-me que em um dos meus espaços jornalísticos falei que temia de que tivesse sido um ataque sexual.

Parece que acertei.

O bandido, que tinha como antecedente ter assassinado uma sua namorada grávida, depois de um assalto, levou essa outra moça seqüestrada em direção a Passo Fundo. No trajeto, como faltou bateria no celular da moça, que ele precisava usar, assaltou uma loja, onde roubou dinheiro para comprar em outra loja a bateria.

A moça seqüestrada acompanhou-o docilmente no assalto, porque se a deixasse no carro, ela fugiria ou chamaria por socorro.

Passaram-se três noites com o seqüestrador em poder da seqüestrada, uma noite dormiram dentro do carro num posto de gasolina, nas outras duas noites eles dormiram em motéis. No segundo, a polícia prendeu o bandido em companhia da moça.

Havia manchas de sangue na toalha e no lençol do motel onde o casal pernoitou. O bandido fugiu oito dias depois de ser preso e foi recapturado anteontem.

Mas o dano psicológico e físico que ele causou na seqüestrada foi devastador. Há dias que ela está hospitalizada em estado de choque, um farrapo humano destroçado.

O que essa moça sofreu nos remete até para o absurdo de abençoarmos as centenas de assaltos relâmpagos em que as vítimas saem ilesas e intactas.

Esse delinqüente teve em seu poder essa moça durante mais de 72 horas. Foi tal o terror que ele usou para dominá-la, que ela assistiu serenamente, sem gritar, sem pedir socorro, ao assalto que ele fez na loja para arranjar dinheiro para comprar a bateria.

Só para comparar, o que essa moça sofreu nas mais de 72 horas em poder de seu captor causou-lhe um dano físico e psicológico de monta cem vezes superior ao que passou no cativeiro durante longos seis anos a ex-senadora Íngrid Betancourt, que voltou do seqüestro sorrindo e dando entrevistas, enquanto essa moça da Glória não tem força para falar, quanto mais sorrir, no hospital em que está internada.

Esse crime não parece, mas foi hediondo. No início do seqüestro, para fazer a cativa conhecer o seu potencial de perversidade, ele deu coronhadas na cabeça e no corpo dela.

Dali em diante, consciente do perigo de morte que encerrava a sua triste sina, ela submeteu-se inteiramente ao seu seqüestrador.

Foram intermináveis as horas agonísticas por que passou essa moça. Essas 72 horas passam de forma tão demorada, que para um refém parecem uma eternidade, falece-lhe completamente a esperança, nem lhe passa mais pela cabeça que possa ser socorrido pela polícia.

Foi muito intenso o sofrimento e o horror por que passou essa moça. Foi muito grande, imensa, incalculável a maldade do assaltante, tão grande foi o dano irrecuperavelmente desastroso que ele causou ao equipamento sensitivo de sua vítima, que a moça, ao encontrar-se com seus familiares, quando a mãe foi abraçá-la, acabou repelida.

O criminoso destruiu para sempre a vítima. Não há pena no aparelhamento penal que possa compensar um crime tão aterrador, mais grave que o assassinato.

Quando a gente pensa que isso pode acontecer com uma filha nossa, perde-se o bom humor por 20 anos.

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