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sexta-feira, 18 de julho de 2008
18 de julho de 2008
N° 15666 - Paulo Sant'ana
A onda criminal
Dois policiais militares foram metralhados no Rio de Janeiro ontem. Estavam dentro de uma viatura, em posto de trabalho, quando chegou um carro e do seu interior foram despejadas dezenas de disparos, que mataram os PMs dormindo.
Depois de descerem de um carro importado moderníssimo, os autores do atentado roubaram as armas dos policiais, que restavam entre os dois cadáveres.
Ao mesmo tempo, no Leblon, durante um tiroteio entre a polícia e bandidos, um pai foi proteger sua filhinha de três anos de idade e tombou diante das balas.
Nos últimos dias, dois inocentes foram mortos por tiros da polícia.
E por aí se vai o cotidiano de morte e terror nas ruas do Rio de Janeiro. A opinião pública está há muito tempo anestesiada, acostumada a essa rotina de matança desenfreada.
Um manto de insegurança cobre há muitos anos a paisagem urbana do Rio de Janeiro, uma das mais belas cidades do mundo, há já um conformismo da população com a violência desenfreada, a todos resta torcer somente que cada um não venha a ser vítima da guerra incessante nas ruas e nas favelas.
Esse tipo de noticiário repercute mais no Rio de Janeiro. Todos os dias, o governador Sérgio Cabral vem à imprensa para pregar que não adianta discurso contra a violência dos bandidos, é preciso ação enérgica da polícia.
Mas sempre que a polícia adota ação enérgica, há o sacrifício de inocentes.
Em São Paulo, não é muito diferente o quadro de violência, como em outras capitais brasileiras.
Há tanto tempo não decresce essa violência urbana nas maiores cidades brasileiras que se pode afirmar que esse grande e dramático problema não tem mais solução, integrou-se ao metabolismo social e só resta à sociedade brasileira conviver com ele.
Isso virou um fatalismo.
Quando assim uma nação é obrigada a chorar seus mortos todos os dias, é evidente que se está vivendo uma guerra.
O potencial criminoso foi crescendo geometricamente e ao seu revés recuou a capacidade dos aparelhos de segurança para contê-lo.
Instalou-se no tecido social brasileiro um preocupante conformismo com a violência alastrada em grandes bolsões do território nacional.
Nitidamente, os governos estaduais e as forças de segurança confessam a sua impotência para conter a violência.
Além disso, os governos estaduais e o governo federal não atuam de modo a que medidas profundas e estruturais sejam tomadas para diminuir o banditismo.
A prova disso é que, aliada da violência, a precariedade total do sistema carcerário, em ritmo de falência, não é atacada por omissão e falta de coragem das autoridades.
Sem cadeias onde colocar os presos, de nada adianta tentar responder à ofensiva criminal.
Mesmo que fosse decretado estado de emergência nacional contra o crime, com mobilização de todos os agentes policiais e talvez até do Exército, esse esforço redundaria inteiramente frustrado pela inanição do sistema penal, mormente no que se refere à dramática falta de vagas nos presídios.
Nunca canso de repetir: sem vagas e sem instalações dignas da condição humana nos presídios, a situação das ruas tende a piorar.
Para limpar as ruas dos delinqüentes, é preciso achar lugar onde elas possam ser reclusos.
Como não se resolve, por incrível omissão dos governos, incentivados pela indiferença da opinião pública, a problemática carcerária, agrava-se assustadoramente a onda criminal.
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