quinta-feira, 31 de julho de 2008



31 de julho de 2008 | N° 15679
LUIZ PILLA VARES


Machado X Guimarães

Há pouco mais de um mês o caderno Mais, da Folha de S.Paulo, publicou uma enquete com vários professores e críticos literários para saber quem era maior, Machado de Assis ou Guimarães Rosa. Segundo o jornal, Machado de Assis ganhou de goleada, 11 votos contra dois para Guimarães.

Se isso interessa a algum dos meus 17 leitores, não sou professor de Letras, nem crítico literário, embora os aprecie muito e com eles tenha aprendido muito, inclusive com meu querido amigo Luís Augusto Fischer, um dos melhores entre os que participam da pesquisa da Folha.

Mas gosto demais de literatura, sou um leitor voraz, inclusive dos bons romances policiais. Portanto, minhas opiniões sobre literatura são as de um amador, de um leitor apaixonado por livros para quem o gosto é um dos principais critérios de avaliação de uma obra. Assim, não me aventuro na área do competente professor Fischer.

Por isso mesmo, discordo radicalmente da tal enquete realizada pela Folha. E discordo porque, para mim, literatura não é um jogo de futebol. Um livro é um livro e pronto. Único. Do qual a gente, nós, os leitores amadores, gostamos ou não. Assim, não se trata de opor Machado de Assis a Guimarães Rosa, Dom Casmurro a Grande Sertão: Veredas.

Ambos são grandes autores de obras-primas e jogam no mesmo time, o time da literatura brasileira, ou, muito simplesmente, da literatura universal. E, neste vasto e inesgotável mundo do romance, a opinião dos leitores, para quem, afinal, os livros são escritos, varia muito.

Um exemplo disso está na própria Folha de S.Paulo: recentemente, um de seus melhores articulistas, Carlos Heitor Cony, escreveu que Lima Barreto, o notável autor de O Triste Fim de Policarpo Quaresma, era um romancista melhor do que Machado de Assis.

Literatura é assim mesmo: as opiniões são as mais díspares possíveis. E, para um simples leitor - o que é o meu caso -, não tem o menor sentido colocar Machado contra Guimarães, ou Machado contra Lima Barreto.

O grande escritor é único e irrepetível. Cada grande livro constitui um universo único em diálogo inesgotável com a mente de seus leitores. Claro que não invalido as comparações acadêmicas feitas pelos professores, nem as análises sutis realizadas pelos críticos profissionais.

Eu, um simples leitor, fico com as delícias que um bom romance ou um belo conto pode proporcionar. Fico com o gosto. Machado ou Guimarães? Gosto de ambos nas suas diferenças e nas suas grandezas.

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