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quarta-feira, 16 de julho de 2008
16 de julho de 2008
N° 15664 - David Coimbra
A baronesa misteriosa
Há uma mulher misteriosa na história do Rio Grande, uma mulher sobre quem pouco se sabe e sobre quem um dia ainda descobrirei mais do que sei. A Baronesa do Cahy.
Escreve-se assim mesmo, Cahy, com agá e ipsilone. Que era loira, é provável; que era lindíssima, isso é certo. Os homens de Porto Alegre uivavam para a lua quando ela deslizava pelas ruas da cidade, precárias ruas daquela época, meados do século 19.
Todos a desejavam, mas dois, em especial, disputavam seus favores: Deodoro da Fonseca e Gaspar Silveira Martins.
Deodoro, você sabe, foi o marechal alagoano que proclamou a República. Mesmo sendo alagoano, ele foi presidente da província de São Pedro, que é, isso você também sabe, o Rio Grande aqui. Presidente da província equivalia a governador. Nesta condição, Deodoro balbuciou o primeiro alô num aparelho telefônico no Estado.
O fato histórico se deu no prédio onde hoje está instalada a Biblioteca Pública. Lá funcionava a pioneira companhia telefônica do Estado. Havia 12 pessoas com telefone em Porto Alegre. Deodoro ligou para um jornal, supõe-se que "A Federação", empostou a voz e disse:
- A... lou? Assim começou a história da telefonia no Rio Grande do Sul.
Deodoro era um notório pé-de-valsa. Pelas informações que grassam acerca de suas habilidades de bailarino, devia ser um Professor Juninho ou um Potter. Os dois, o Professor Juninho e o Potter, usam a destreza nos salões para suas conquistas amorosas, que são tantas.
O Professor Juninho chegou a viajar para Buenos Aires a fim de assimilar os elaborados passos do tango, e o Potter adquiriu sua arte nos rendez-vous lúgubres da Fronteira. Deodoro, não imagino onde possa ter aprendido a dançar, mas era entre as paredes vetustas do Solar dos Câmara que mostrava toda a sua manemolência.
Os bailes oficiais, as recepções, os grandes eventos sociais da Capital aconteciam no Solar, à falta de acomodações condignas no velho Palácio do Governo. Numa dessas, Deodoro enamorou-se da Baronesa e passou a fazer-lhe a corte.
Havia, porém, um porém. Um homem cheio de energia, expansivo, loquaz e, tanto quanto o Potter e o Juninho, bem-sucedido com as mulheres. Gaspar Silveira Martins.
Sim, senhor, as mulheres amavam Silveira Martins, chamado pelos contemporâneos de "Sansão do Império", por seu vigor, e "Demóstenes dos Pampas", por sua eloqüência. Pois Silveira Martins conquistou a Baronesa, e Deodoro ficou a ver navios no Lago Guaíba.
Fundou-se, assim, uma amarga rivalidade entre Deodoro da Fonseca e Silveira Martins. Rivalidade igual só se veria 30 anos depois, com o advento do Gre-Nal. Deodoro odiava de tal forma a Silveira Martins, que, anos mais tarde, ocorreu o seguinte:
os republicanos conspiravam para derrubar o Império, amealhavam simpatias em praticamente todos os estamentos da sociedade, mas não conseguiam a adesão de Deodoro. Tal apoio era fundamental, porque para onde Deodoro fosse iria o Exército.
O Império cambaleava, as críticas ao governo se multiplicavam e o primeiro-ministro, o Visconde de Ouro Preto, estava prestes a cair. Uma tarefa, no entanto, era derrubar o primeiro-ministro; outra era derrubar o imperador e, por conseqüência, o regime.
Deodoro tinha como alvo apenas o visconde. Do imperador ele gostava ("Devo-lhe favores", dizia). Na segunda semana de novembro de 1889, as maquinações republicanas fermentavam, mas Deodoro nem sequer saía de casa. Permanecia de cama, com falta de ar.
Aí Benjamin Constant teve uma idéia. Foi à casa de Deodoro e, ao pé do leito do enfermo, sussurrou-lhe a informação (falsa) de que Dom Pedro II pretendia nomear Silveira Martins como primeiro-ministro, em lugar do visconde. Deodoro saltou da cama e do pijama. Bradou: - Essa eu não perco! E proclamou a República.
Em resumo, se não fosse por uma loira, ainda teríamos um imperador e uma imperatriz, e duques e viscondes e condes e barões.
Uma quizília amorosa mudou a história de um país, assim como, no caso do Gre-Nal, uma quizília social redundou na maior rivalidade do futebol brasileiro - por quizília social, obviamente, refiro-me ao fato de os irmãos Poppe terem sido recusados pelo Grêmio, motivando-os a fundar o Inter.
Questões na aparência irrelevantes podem mudar destinos aos milhões. No caso do triângulo do Solar dos Câmara, os destinos foram vários.
Deodoro virou nome de rua em todo o país, você mesmo já pisou nas pedras de alguma Marechal Deodoro por aí.
Silveira Martins teve uma morte gloriosa: no exílio em Montevidéu, sim, mas em pleno campo de batalha, entre lençóis, na companhia de uma fogosa uruguaia.
A Baronesa do Cahy continua sendo um mistério que ainda desvendarei. E desta rivalidade da Dupla Gre-Nal, o que ela produziu, já sei, mas o que produzirá, disso, confesso, disso tenho certo medo.
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