quarta-feira, 16 de julho de 2008



16 de julho de 2008
N° 15664 - Martha Medeiros


Tive uma idéia!

Se você escutar alguém dizendo que teve uma idéia, pare tudo e ouça com atenção, mesmo que você suspeite que vá ouvir bobagem. Não importa. O que interessa é que você está diante de alguém que tem esperança, que leva fé em si mesmo, que acredita em alguma coisa. Não vale artista.

Artistas têm idéias por dever de ofício, por hábito vocacional, porque nasceram para ter idéias.

E o resto da população espera as que chegam prontas, as industrializadas, produzidas em série e divulgadas em revistas. Idéias para decorar seu lar com pouco dinheiro, idéias para renovar seu visual em 10 minutos, idéias para fazer um jantar de última hora apenas com o que você tem na geladeira.

Não. Estou falando sobre outro tipo de gente: daqueles raros que têm uma idéia que pode mudar uma vida.

Uma idéia como a que teve Beto, protagonista do filme O Banheiro do Papa, que vivia miseravelmente num povoadinho esquecido por Deus e que, na iminência da visita do representante maior do dito-cujo, pensou: vou dar outro final para minha história.

Teve uma idéia! Qual seja: muitos peregrinos viriam ver o Papa de perto, iriam passar o dia pelas ruas da cidadezinha, iriam rezar, comer, beber, e depois? Onde iriam fazer suas necessidades?

Eureca! Beto resolveu construir um banheiro público, ali, na frente da sua casa, e num único dia ganharia dinheiro suficiente para pavimentar o pátio, para pagar a conta atrasada de luz, para comprar uma moto e para mandar a filha estudar na capital.

Nós, na platéia, assistimos a tudo isso com o coração na mão, porque estamos diante de um sonhador, de um idealista, de um cara que cometeu a doidice de acreditar numa idéia sem antes encomendar uma pesquisa de opinião, fazer um planejamento estratégico, buscar um patrocinador e contratar um marqueteiro, que é como as idéias se viabilizam hoje.

Beto apenas teve a sua original idéia e colocou o plano em prática, sozinho, como se esperança bastasse para fazer as coisas darem certo.

Deveria bastar. Mas, infelizmente, aqui na terra dos céticos, nada é garantido, tudo é risco. E é isso que nos comove no entusiasmo de Beto.

Ele acha que não há risco e que não está sendo sonhador, ele tem uma convicção interna que é inquestionável: dará certo porque ele vai fazer dar certo. Alguém segura um sujeito desses?

Melhor perguntando: alguém conhece um sujeito desses?

Fazem falta os Betos, esses que têm idéias que ora parecem malandras, ora parecem ingênuas, mas que são levadas adiante com tanta garra, que não nos deixam outra saída a não ser torcer por eles, pois fazendo isso estamos torcendo também por nós e pela humanidade, que anda tão carente de otimismo.

Aproveite este Dia Internacional do sofá - Uma ótima quarta-feira para todos nós.

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