Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 12 de julho de 2008
13 de julho de 2008
N° 15661 - David Coimbra
A Festa do Lobo Solitário
A festa que fechou os anos 80, e os fechou com fausto e glória, foi a Festa do Lobo Solitário. Que festa, meeen! Até hoje tem gente que fala na Festa do Lobo Solitário. Deu-se na casa do velho Engenheiro Brito.
O velho Engenheiro Brito era um gaúcho que morava lá em Criciúma. Com muito tino e esforço, ele amealhou algum dinheiro e construiu uma bela casa de quatro andares, repleta de equipamentos de lazer, como piscina, sala de jogos, sauna e bibibi, se é que você entende o que quero dizer com bibibi.
Na garagem havia uma porta que dava acesso direto ao quarto, como num motel. E o quarto era cheio de espelhos e banheira de hidromassagem e, bem, bibibi.
O velho Engenheiro Brito havia construído aquela casa tão funcional para as lides do amor devido a uma desilusão.
A mulher que era a sua cara-metade, a mulher da sua vida, a mulher com quem ele esperava passar seus dias de aposentadoria em alguma prainha recôndita, os dois de pantufas do Scooby, essa mulher o abandonou.
Foi então que ele se transformou no Lobo Solitário. Para o velho Engenheiro Brito, os sentimentos não tinham mais importância alguma. Ele possuía um paralelepípedo no peito, em vez de um coração. Ele vivia apenas para o prazer carnal.
Foi esse homem que, nos últimos dias de 1989, com a nova década já no limiar da porta de entrada, decidiu promover a Festa do Lobo Solitário.
Era um dezembro quente. As pessoas naturalmente se excitam com dezembros quentes, mas mais excitadas estavam porque, naquele dezembro, mais precisamente no dia 17, seria eleito o primeiro presidente civil do Brasil desde 1964.
Collor ou Lula? Naquela festa, lembro bem, a maioria era Lula. Ainda hoje tenho fotos do pessoal fazendo com o indicador e o polegar o L que simbolizava a campanha do sapo barbudo, como chamou-o Brizola, amorosamente.
Ano muito louco, 1989. As pessoas sentiam-se importantes, naquele ano. Sentiam-se felizes. Estávamos todos preparados para a festa. E o velho Engenheiro Brito não nos decepcionou. Não mesmo.
Ainda não havia foto digital, nem nada, mas o Brito montou um laboratório de revelação no segundo andar e contratou dois fotógrafos para registrar tudo (ou quase tudo) o que acontecia. O fotógrafo chefe era o Ezequiel Passos, vocês precisavam conhecer o Ezequiel Passos.
Sabe o Hagar, o Horrível? O Ezequiel escritinho. Na aparência e no comportamento irreverente. O Ezequiel, guiava-o o lema dos Beatles: Let it be, deixa estar... Não havia ninguém que não gostasse do Ezequiel.
Já o segundo fotógrafo, que funcionou como laboratorista, era o meu amigão Plisnou. Já contei a razão de o Plisnou ser apelidado de Plisnou? Um dia conto.
Os dois, o Plisnou e o Ezequiel, fotografavam a festa, corriam para o laboratório, revelavam e, meia hora depois, entregavam para o conviva a sua própria foto, tirada naquele próprio dia, com seus próprios amigos. Um luxo!
Esse esquema deu certo enquanto os fotógrafos se mantiveram sóbrios. Depois, no pictures! O que foi uma bênção. Houve cenas na festa que, se fossem registradas para a posteridade, acabariam com reputações e matrimônios.
Aliás, foi por isso que lembrei da Festa do Lobo Solitário. Por ter lido sobre a festa dos jogadores do Flamengo em Belo Horizonte. O goleiro Bruno, depois do escândalo, lamentou: - Meu casamento acabou...
Amadorismo dos jogadores. Pode-se fazer uma festa inesquecível sem que casamentos sejam abalados. Na Festa do Lobo Solitário foi o que aconteceu.
Havia de tudo na FLS: modelos foram contratadas para desfilar numa passarela construída sobre a lâmina d´água da piscina. Depois do desfile, elas se misturaram à platéia e foram dançar dentro de suas roupas sumárias e do alto de seus escarpins.
Um leitão girava no espeto no meio do pátio, como se fosse um dos banquetes dos amigos de Asterix. Os garçons eram instruídos para jamais (jamais!) deixar alguém com o copo vazio.
As pessoas dançavam pelos jardins, pelas salas, pelos quartos. Volta e meia, o velho Engenheiro Brito comandava um apagar de luzes de um ou dois minutos e, no escuro, era aquela gritaria.
Quando as luzes voltavam, tudo estava diferente. Tudo estava melhor. A certa altura da madrugada, alguém gritou:
- Ninguém é de ninguém!!!
Mais gritaria, muito mais. Lembro vagamente de como terminou a festa. Mas prefiro não falar a respeito. No dia seguinte, era isso que as pessoas diziam umas às outras, quando se encontravam na rua:
- Não vamos falar a respeito, né?
- Não vamos, não vamos...
Só muito mais tarde é que conseguimos conversar abertamente sobre tudo (ou quase tudo) que ocorreu na Festa do Lobo Solitário. Nós sabíamos como fazer uma festa, naquele tempo.
Hoje, imagino que não nos deixariam fazer aquela festa. Hoje tudo está proibido, hoje nada pode, hoje o moralismo vige, meeen. Pobre Bruno, pobres jogadores do Flamengo, o mundo se lhes caiu na cabeça por causa de uma festa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário