segunda-feira, 14 de julho de 2008



14 de julho de 2008 | N° 15662
Luiz Antonio de Assis BrasilPalavras (36)


A palavra - Não só os nomes das pessoas; a língua alemã escreve em maiúscula também a letra inicial das coisas comuns: Árvore, Caminho, Nuvem, Raio. Lembram as ornamentais letras capitulares das iluminuras góticas.

As coisas comuns, assim engrandecidas, sobreviverão às pessoas.E é verdade.

Nada - Palavras são animaizinhos perdidos na selva. Palavras são encolhidas, vergadas sobre si mesmas, quase nadas. São milhares e tão poucas para dizer o que o Escritor tanto deseja. Inútil é a tentativa fazê-las nossas.

As palavras, aos milhares, não pertencem a ninguém e, em sua humildade, exercem a tirania sobre todos.

Antes fosse o enigma do Nada Absoluto. Dele nada esperamos. Das palavras, e inutilmente e sempre, tudo.

No gabinete do Leitor há uma escrivaninha e, sobre ela, um livro. Um marcador de páginas está a meio da leitura. O Leitor parou na página em que há uma palavra circundada. Essa palavra não existe no dicionário. Essa palavra não pertence a nenhum reino conhecido.

O Leitor não seguirá adiante se não decifrar essa palavra. Assim ele ficará, sem nada ler, até que a morte o surpreenda. É o momento em que tudo será revelado: o sentido da vida e a semântica de todas as palavras.

Depois disso, muito tempo passará. Talvez a eternidade. O livro, o resto do livro, será lido por um anjo com ar muito doutoral.

Dicionários são livros que pretendem aprisionar as palavras. Aprisionando-as, elas se tornam domesticáveis a um estalar dos dedos. Acabam por adquirirem um sentido: nem sempre um sentido cômodo ou de acordo com a conveniência pública.

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