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sábado, 12 de julho de 2008
13 de julho de 2008
N° 15661 - Paulo Sant'ana
Seqüestro libertador
Estranha a atitude de Íngrid Betancourt ao ser resgatada das selvas e devolvida à sua família.
A ex-senadora colombiana, ao encontrar-se com sua mãe no aeroporto de Bogotá, dedicou-lhe calorosa e entusiasmada acolhida.
Também quando, dias depois, seus dois filhos chegaram da França, Íngrid tributou-lhes tratamento carinhoso e repleto de saudade.
No entanto, quando seu marido, Juan Carlos Lecompte, foi vê-la na volta do seqüestro, Íngrid recebeu-o com frieza e indiferença, demonstrando uma distância surpreendente com uma pessoa que afinal fazia parte de sua vida íntima antes do seqüestro.
Teoricamente, Íngrid e Juan Carlos se amavam quando ela foi seqüestrada, o que terá levado Íngrid a rejeitar assim a seu marido no retorno do cativeiro?
Houve boatos de que Juan Carlos arranjou uma namorada mexicana durante os seis anos em que Íngrid esteve presa.
Mas Juan Carlos afirma peremptoriamente que isso é uma invenção. Mas, então, o que terá levado Íngrid a rejeitá-lo, a ponto de ele ter-se sentido desprezado exatamente quando, como ninguém, queria comemorar com alegria a volta de sua esposa, tendo sido obrigado a um encontro com gelo e enfado?
É o primeiro caso de uma esposa enfastiada do marido pela distância. Quase sempre isso se dá quando os cônjuges estão próximos e convivem intensamente.
Pois exatamente sem a fricção do convívio, sem o desgaste do encontro diário dos corpos e dos espíritos, Íngrid Betancourt cansou-se do marido.
O que terá acontecido com essa mulher durante a longa separação de seu marido? Por que o imenso vazio existencial de Íngrid provocado pelo cativeiro fez ela voltar-se somente contra ele, todos os outros valores foram saudados por ela, os companheiros de cativeiro, a pátria, a mãe, os filhos, a solidariedade do povo e do governo colombiano e dos povos de outras nações, somente o marido lhe causou repulsa?
O marido de Íngrid se perguntou numa entrevista: "Não devo descartar que tudo acabou com Íngrid, mas pode passar. O amor por mim pode ter acabado na selva".
Será que Íngrid se acostumou de tal forma ao compulsório exílio do cativeiro que incorporou definitivamente a solidão ao seu novo modo de vida, julgando o marido dispensável para a construção de um novo destino?
Ou será que ela aproveitou a extensa clausura para revisar a sua vida interior e libertar-se dos grilhões do casamento?
Terá Íngrid, nas tortuosas e angustiantes noites da prisão, conhecido algum homem, entre os companheiros de infortúnio ou entre os guerrilheiros, que fez balançar a sua relação com o marido, comparando essa nova experiência em detrimento do seu cônjuge?
Será que naquele emaranhado de angústias do cativeiro nas selvas, na desértica paisagem do entorno prisional surgiu uma urze, na forma de um homem, um oásis sentimental que a amparou no doloroso sofrimento e emergiu como um facho de luz uma luz entre as trevas da floresta?
Muito estranha e inexplicável esta ojeriza de Íngrid ao marido, chegando ao ponto de agredi-lo com o desprezo em seu retorno, como se ele não fizesse parte das relíquias humanas e sentimentais que foi obrigada a abandonar quando seqüestrada.
Juan Carlos, o marido da ex-senadora, foi tratado como uma atrapalhação quando ela retornou do seqüestro.
Íngrid, quando voltou do cativeiro, elogiou o presidente colombiano, Álvaro Uribe, elogiou depois o presidente Chávez, da Venezuela, elogiou também Lula, agradou à família e a todos, só foi friamente agressiva com o marido, como se ele fosse culpado de seu seqüestro.
Existe entre muitos casais uma estranha mania de um cônjuge culpar o outro por tudo de ruim que lhes acontece na vida em comum.
Será que essa exótica compulsão pelo enfrentamento conjugal é que está levando Íngrid agora a considerar o seu marido um estorvo?
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