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segunda-feira, 21 de julho de 2008
21 de julho de 2008
N° 15669 - Paulo Sant'ana
Um homem de ação, de ações de valor e de valores
Chama a atenção de todos que assistimos às movimentações do tabuleiro de xadrez do caso Dantas o silêncio sepulcral do banqueiro em suas idas e vindas tanto à prisão quanto nas oportunidades em que foi chamado a depor.
Nunca pronunciou sequer uma palavra à imprensa, embora assediado por chusmas de repórteres. E nos depoimentos reservou-se também o direito do silêncio, não respondendo a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas.
Um homem que aparentemente tem tanto a dizer, no entanto não diz absolutamente nada.
A imprensa e os seus interrogadores topam apenas com aqueles olhos claros que fingem serenidade, a ameaça de calva e o tope desarrumado da gravata.
Nada sai dele, senão um silêncio tumular, como que a dizer a todos: "Não se metam nisso, vocês não sabem nada do que está por trás de tudo".
Mas se calcula que haja muito por trás de tudo.
Um indício disso é que o delegado Protógenes Queiroz saiu do caso, pretensamente para fazer um curso. O juiz Fausto Martin de Sanctis, que mandou prender Dantas duas vezes, entrou em férias. O superintendente da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, também entrou em férias.
E o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, também entrou em férias. Cá para nós, este não era o momento para todos entrarem em férias.
Que caso é este em que seus principais personagens se afastam dele como o diabo da cruz?
O delegado, o juiz, o superintendente e o ministro não podem ser encontrados por estarem em férias e o banqueiro pivô dos acontecimentos está praticamente também em férias, pois não abre a boca e não pronuncia nenhuma palavra.
O caso pode até prosseguir, mas está órfão de seus principais personagens.
Este Daniel Dantas tornou-se um mito do mercado financeiro. Fez mestrado e doutorado na Fundação Getúlio Vargas, depois de formado em Engenharia Civil na Bahia.
Foi pupilo do economista e ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, era amigo de um prêmio Nobel da Economia, o italiano Franco Modigliani, e foi aluno de outros três vencedores do Nobel de Economia, tudo no Exterior.
Mas achava tempo para vir administrar como sócio a corretora Triplic no Brasil. Logo a seguir, logrou ser vice-presidente de investimentos do Bradesco, de onde foi liderar o Banco Icatu.
No Icatu, foi revelado o seu gênio financeiro, comprou ações de empresas de energia e telefonia quando elas valiam quase nada. As ações dispararam. O mesmo ele fez com ações da Petrobras quando elas eram pouco cotadas.
E, finalmente, quando o governo Collor instalou o confisco, ele resolveu investir em soja e café e livrou-se do período de aperto exportando os dois produtos.
Tendo enriquecido o Icatu, separou-se dele e fundou o Banco Opportunity. Então o gênio dele alastrou-se. Atirou-se de corpo e alma nas privatizações e fez consórcios entre telefonias e fundos de pensão.
Amealhou recursos de bancos estrangeiros e nesses consórcios estabeleceu teias entre holdings e sub-holdings que afinal vieram a ter a ele somente como gestor decisivo.
Evidentemente que esse homem que atravessou até agora quase quatro governos passou a ter uma importância perto do sobrenatural no meio financeiro brasileiro. Tudo que tinha dinheiro em qualquer setor do mercado ou do governo lhe tocava e ainda toca.
A questão é a seguinte: um homem com tal poder, tal talento e tal envolvimento com os círculos superiores das finanças e governamentais poderia ter sido preso?
Tudo indica que o delegado Protógenes e o juiz De Sanctis se aproveitaram de um cochilo. E quando acabou o cochilo, como os outros, entraram em férias.
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