quinta-feira, 31 de julho de 2008

Luzes "multiplicam" bailarinos
Arnold Groeschel/Divulgação

Para Decouflé, coreografia é "jogo de imagens fantásticas" que permite duos com projeções sobre o palco

Coreógrafo não vem ao país, mas diz que manda um de seus mais belos espetáculos, com "um pouco de teatro de sombras e cinema mudo"



Cena de "Sombrero', que tem quatro apresentações no teatro Alfa

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Antes de mais nada, não espere de Philippe Decouflé uma dança intelectual repleta de reflexões. O coreógrafo francês é mestre na arte de entreter platéias com belas imagens, personagens engraçados e gestual poético.

A mistura, que garante reverências no mundo todo, volta a São Paulo hoje, quando a Cie. DCA (Decouflé & Complices Associés ou Dance Compagnie D'Art) abre, tardiamente, a décima temporada anual de dança do teatro Alfa.

Decouflé em pessoa não vem, mas, em compensação, diz que mandou um dos seus mais bonitos espetáculos em mais de duas décadas de criações.

Para brincar com luzes e sombras, "Sombrero" (2006) traz elementos característicos de sua linguagem: projeções de vídeo (paixão do coreógrafo), um pouco de circo e acrobacia. Tudo ao som da música do inglês Brian Eno.

"É um jogo de imagens fantásticas, uma diversão. Brinco com luzes e sombras e, com a ajuda de projeções de vídeo, um bailarino pode dançar sozinho e ao mesmo tempo fazer duo com outro projetado na tela", disse o coreógrafo à Folha, por telefone.

"É um tema aparentemente simples, mas a partir dele fiz um dos espetáculos dos quais mais me orgulho e que me deixa muito feliz."

Curiosamente, o próprio Decouflé diz que "Sombrero" não tem nenhuma grande surpresa.

O diferencial é a mistura de elementos. "Há um pouco de teatro de sombras chinês, de cinema mudo e de projeção que permite que mais bailarinos estejam em cena. Mas novidade mesmo não há, tudo já foi inventado", diz ele, que começou a carreira estudando circo.

Revelado ao mundo em 1992, quando assinou as festas de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de Albertville (EUA), Decouflé consolidou aos poucos sua platéia brasileira. A Cie. DCA esteve aqui em 1992, 1996 e, por último, em 2000, com "Shazam!", no mesmo teatro Alfa.

Saga divertida

No começo de "Sombrero", o casal François e Françoise surge como narrador de uma saga divertida, cuja história é apenas desculpa para uma seqüência de imagens fantásticas.

Bailarinos dançam com suas projeções em tamanho família, há jogo de luzes em preto-e-branco, mas também projeções psicodélicas, além de homens com seus grandes chapéus, os sombreros à mexicana. Uma festa de imagens sem muitas explicações teóricas.

"É uma história de amor universal, de um casal que se perde, se procura e se acha. É uma estrutura poética, por isso não vale procurar muitas explicações sobre o que acontece." "Sombrero", afirma o autor, é um jogo de palavras em francês, porque "ombre" quer dizer sombra, e "sombre" quer dizer escuro.

"É uma brincadeira, mas também gosto da imagem dos mexicanos com grandes chapéus, os sombreros, que toda criança francesa em idade escolar aprende a desenhar."

Apesar de ter tido mestres como o mímico Marcel Marceau (1923-2007) e o coreógrafo Merce Cunningham, 79, com os quais estudou e trabalhou, Decouflé diz que "Sombrero" não tem nenhum tipo de influência de outros criadores.

Ao contrário: "Não há mímica de Marceau, apesar da ligação com filmes mudos em preto-e-branco. Na minha idade, cheguei a um ponto em que me preocupo só com que eu faço. Não tem nada de um nem de outro".

Sobre o Brasil, ele conta que sempre lembra a primeira vez em que veio, porque chegou um mês antes do Carnaval, em Salvador, e todo mundo dançava nas ruas: "Adorei. É a primeira coisa que me vem à cabeça quando se fala do Brasil".

CIE. DCA - SOMBRERO

Quando: hoje, sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/11/5693-4000)
Quanto: de R$ 40 a R$ 110 - Classificação: não recomendado para menores de 12 anos

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