Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
21 de julho de 2008
N° 15669 - Luis Fernando Verissimo
Aulas de inquietação
O Mario Quintana dizia que as guerras eram um modo prático de se aprender geografia. No noticiário das batalhas e dos territórios conquistados e perdidos se descobria o nome de lugares até então desconhecidos, e alguns se tornavam não apenas conhecidos como históricos, identificados para sempre com o feito guerreiro que ali se desenrolara - mesmo que não passasse de um morro, ou de uma aldeia de um cachorro só.
No atual noticiário sobre a guerra em torno do prende, solta, prende, solta, algema, não algema do Daniel Dantas, estamos todos tendo aulas diárias de jurisprudência.
Mas, como os locais insignificantes que ficaram famosos só por serem o cenário de alguma batalha decisiva, os nomes de processos e recursos judiciais que ouvimos no debate retórico soam mais importantes e imponentes do que são, e ensinam pouco. O vocabulário esotérico só nos inquieta.
Pois a guerra retórica é sobre diferentes interpretações do que é legal, constitucional e justo - tudo que a gente imaginava já decidido e gravado em pedra.
Discute-se o que a polícia pode ou não pode fazer e até o que um presidente do Supremo Tribunal Federal pode ou não pode fazer, e a gente aqui pensando que isso estava combinado há uns cem anos mais ou menos.
Enfim, a máxima do Quintana não se adapta ao noticiário dessa guerra sobre atribuições e métodos no nosso sistema judiciário. Com essa guerra só se desaprende.
Consegui localizar o Zé da Silva, que, mais do que ninguém, teria uma opinião sobre as questões policiais e jurídicas em discussão no momento. Ele está preso em algum lugar do território brasileiro.
- Alô, Zé. Você é considerado o protótipo do Ladrão de Galinha nacional. - Isso. - Como devo chamá-lo? - Pode ser Protó.
- Você é a favor ou contra as algemas? - A favor. - O quê? Você não acha que as algemas são uma indignidade, que humilha desnecessariamente o preso?
- Acho não. - Logo você, Protó, que está sempre sendo preso? Que surpresa. Mas obrigado, viu? Eu...
- Espera. Você não vai me perguntar sobre o pescoção, a chave de braço, o chute nas canelas e o cassetete nas costelas? Sou contra.
E o Zé da Silva completou: - Gosto das algemas em comparação.
Como já sou um avô veterano (minha neta Lucinda completou três meses), estou capacitado a dar conselhos sobre a matéria.
Por exemplo, como fazer a neta parar de chorar quando não há nenhum motivo óbvio para o choro, como a fome, que não é da sua jurisdição. Aconselho dançar com ela, cantando no seu ouvido.
Depois de experimentar com várias alternativas, posso recomendar Les Plaisirs Démodé, do Aznavour. Os resultados são animadores. Mas, mesmo quando não funciona, é bom!
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