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segunda-feira, 28 de julho de 2008
28 de julho de 2008
N° 15676 - Luiz Antonio de Assis Brasil
Palavras (37)
Raridades - Muita palavra nos falha, quando temos certeza de possuí-la, gravada em nossa memória para sempre. Não são palavras raras; são: Dedal, Padiola, Visco. Essas palavras são nossas inimigas. Falham-nos.
Numa gentilíssima compensação, a memória oferece-nos Alabastro, Rádica, Pérgola.
Sinônimos - Em épocas perdidas da Humanidade, na invenção da linguagem, as palavras eram tão poucas, tão necessárias, que o seu esquecimento poderia significar a morte.
Para o homo sapiens, esquecer a palavra "Tigre", quando a fera vinha em seu encalço, era o mesmo que ser devorado. Saber a palavra "Tigre" era adquirir certo domínio sobre o tigre, certa ascendência, certa dignidade salvadora.
Com o desenvolvimento da civilização, as palavras multiplicaram-se como cogumelos, enriqueceram suas possibilidades semânticas, projetaram-se num abismo de significados banais. A dignidade única da palavra foi substituída pela degradação dos sinônimos. Se isso possibilitou a poesia, também fez surgir a mentira, que foi causa dos grandes impérios.
É mais acertado repetir uma palavra do que aviltar-se à busca de um sinônimo, que nunca o será.
As coisas só podem ser ditas de um modo. Retábulo, por exemplo.
Sinais - Maravilhou-se, o primeiro homem a escrever uma palavra. Com a alma em chamas e incapaz de mais nada, esse homem passou a escrever por toda a vida a mesma palavra. O xamã declarou-o possuído pelos demônios da noite.
Os espeleólogos, antropólogos e arqueólogos, milênios depois, não conseguem entender um conjunto de sinais repetido em certas cavernas.
Gramática - As palavras escritas na superfície de um papel, se deixadas nas silenciosas trevas da gaveta, acabam se comunicando, concertando sua sintaxe, tais como os melões postos na carroça.
Depois de alguns dias criam novas realidades, que surpreendem a nós, que as escrevemos. Depois de um ano há, ali, um escrito completamente novo.
Publicá-lo como nosso é, sempre, uma fraude.
Escritos - A melhor literatura é a feita por aquela jovem que diz ao professor: "Mestre, aqui está o que escrevi. É péssimo. Dá-me a impressão de que foi outro que escreveu".
Esse Outro é ela mesma. É o Outro que está nela, de existência tão literária que a faz pensar que nela habita alguém diferente de si.
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