sábado, 20 de agosto de 2022



20 DE AGOSTO DE 2022
EMPREENDEDORISMO NO RS -Jhully Costa - jhully.pinto@zerohora.com.br

EMPREENDEDORISMO NO RS

Criar o parque também foi uma aventura radical. Com atrações de tirar o fôlego e muita natureza, Stone Land exigiu coragem até virar realidade

A intensa rotina de viagens e duas próteses na coluna cervical fizeram com que Nívea Nunes Saraiva cultivasse, ao longo dos anos, a vontade de parar de trabalhar como representante de medicamentos para abrir um negócio próprio, preferencialmente na zona rural. Foi esse desejo que levou ela e o marido, Cristian Luis Gomes Pereira, que atuava no mesmo ramo, a comprarem uma propriedade de 37 hectares e investirem na construção de um parque de aventuras na localidade de Cascata, em Pelotas, na região sul do Estado.

Natural de São Gabriel, Nívea conta que o amplo espaço que hoje abriga o Parque Stone Land, no quilômetro 89 da BR-392, já era conhecido e admirado pelo casal, que tinha um dinheiro para receber e queria investir em algo diferente. O processo de compra da propriedade se iniciou em 2018, quando a ideia de empreender ganhou força durante um passeio por atrações da serra gaúcha.

- Quando estávamos retornando, o Cristian me olhou e disse: "quem sabe fazemos um parque lá naquele lugar que estamos querendo comprar?". Então, viemos conversando sobre isso, mas eu não queria fazer algo só de aventura, queria algo que toda a família pudesse usufruir - recorda Nívea, hoje com 47 anos.

Início

Nívea procurou ajuda especializada para um plano de negócios. Na época, essa etapa custava em torno de R$ 10 mil e o casal já não tinha condições de pagar. Então, entrou em contato com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que oferecia condições acessíveis.

Em março de 2019, eles começaram os investimentos no parque, com a limpeza e a reforma do prédio onde seria a recepção. Mas, no final daquele ano, Cristian teve câncer de tireoide e eles precisaram dar uma pausa.

- Também já estávamos sem dinheiro, tudo que tínhamos foi usado para adquirir a propriedade e fazer as primeiras restaurações - enumera a empresária.

Após a cirurgia de Cristian, em fevereiro de 2020, eles decidiram voltar ao parque e organizaram uma inauguração para abril. Em março, no entanto, teve início a pandemia.

Entre períodos de restrições e flexibilizações, o casal conseguiu se adaptar, investir ainda mais e, finalmente, inaugurar o Stone Land em 7 de novembro de 2020 - na época, havia apenas balanços, pêndulos, churrasqueiras, venda de piqueniques e tirolesa. Hoje, o espaço também conta com quiosques, restaurante, espaço para refeições, pracinhas, trilhas, mirante, arvorismo, parede de escalada e super salto. Tudo pensado para proporcionar o maior contato possível com a natureza.

Delícias

Um dos quiosques é administrado por uma das filhas de Nívea, Mariane Saraiva, e disponibiliza as cestas de piquenique com produtos coloniais produzidos na região, como pão caseiro, cuca, salame, queijo, suco de uva e roda de carreta (um bolinho frito típico alemão).

O parque funciona de quinta- feira a domingo e aos feriados, sempre das 10h às 19h. A entrada custa R$ 10 por pessoa, mas crianças de até seis anos não pagam, e cada aventura tem um preço, que já inclui os equipamentos de segurança. Mais informações pelo WhatsApp (53) 98113-4528 ou pelo Instagram @parquestoneland.

A cada visita da fiscalização, um novo desafio e mais gastos

Para o casal de sócios, a parte mais desafiadora foi aprender o que era necessário para ter um parque de aventuras - licenças e alvarás, por exemplo. Ambos comentam que só descobriam certas exigências quando órgãos apareciam para fiscalizar o local.

- O maior desafio foi se adequar, porque nós não tivemos orientação. Então, tudo foi feito através de muito custo, apanhando. Eles chegavam aqui, pediam e a gente não tinha noção. Então, fazíamos tudo e gastávamos muito - relata Nívea, que hoje trabalha junto ao Conselho Municipal de Turismo de Pelotas e à Associação Comercial, a fim de desenvolver o turismo rural e apoiar futuros empreendedores.

Com a ajuda do Sebrae, o casal conseguiu fazer uma análise de mercado, ver o que outros empreendimentos semelhantes faziam e o que poderia ser um diferencial. Também foi possível ter noção de quantos anos demora para ter lucro: de acordo com o plano de negócios, o investimento de aproximadamente R$ 2,5 milhões no parque deve retornar em quatro ou cinco anos.

Custos com o maquinário pesado utilizado para a limpeza, material gráfico e registro da marca, entretanto, não estavam previstos e pegaram o casal de surpresa. Nesse cenário, a gestão financeira acabou sendo outra dificuldade.

Consultoria

Neste ano, o casal buscou o suporte de um gestor financeiro para organizar melhor as finanças e, agora, outra filha, Marina Saraiva, formada em Administração e pós-graduada em Gestão de Custos e Planejamento Estratégico, é quem está ajudando nesse setor. O casal recomenda que os empreendedores contem com o apoio de um especialista desde o início.

- Isso aqui veio do zero, então tínhamos que aportar para criar o negócio. Só que hoje já não podemos mais, nem devemos. Tem que ter o ponto de equilíbrio para ter o retorno - acrescenta Cristian, que tem 43 anos.

E na pandemia?

Para não deixar o parque fechado durante toda a pandemia e ter algum retorno financeiro, os proprietários buscaram alternativas. Além da venda de dois hectares da propriedade, criaram o piquenique na caixa. Entre julho e agosto de 2020, quando era permitido agendar visitas com distanciamento, começaram as vendas.

De acordo com Nívea, no início, vendiam de 20 a 50 kits por final de semana, mas, no feriadão do Dia das Crianças, em outubro, venderam 150 por dia e o Stone Land recebeu 2,5 mil pessoas.

O casal aproveitou a alta procura - que gerou impacto inclusive no número de seguidores nas redes sociais - para contratar 10 funcionários e, em novembro, inaugurou o parque.

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