Tradição gaúcha sem fronteiras
Grupo Rock de Galpão celebra 15 anos de releituras do cancioneiro do Sul com show hoje à noite no Teatro Renascença
Há 15 anos, o Rock de Galpão propõe uma releitura contemporânea do cancioneiro do Sul. Transformar Eu Reconheço que Sou um Grosso, de Gildo de Freitas, em blues? Dentro. Não Podemo se Entregá pros Home, eternizada por Leopoldo Rassier, pode virar heavy metal? Claro. Canto dos Livres, de Cenair Maicá, com pitada de reggae? Certamente. Há dezenas de exemplos. Celebrando essa trajetória de reconstruções e tributos, o grupo se apresenta hoje, às 20h, no Teatro Renascença, em Porto Alegre.
Ao longo dos anos, o Rock de Galpão acumula um álbum gravado e três DVDs ao vivo. Em sua atual formação, o projeto conta com Tiago Ferraz (voz e guitarra), Guilherme Gul (bateria), Mestre Kó (teclados e vocais), Gustavo Viegas (baixo) e Guilherme Goulart (acordeom). O grupo tinha como proposta, originalmente, criar novos arranjos para canções regionalistas a partir de influências de rock, reggae, folk e blues, entre outros ritmos.
O Rock de Galpão nasceu no Dado Tambor como projeto que ocupava as noites da Quinta Gaúcha. Tratava-se do encontro da banda Estado das Coisas e Neto Fagundes. Um dia, Bagre Fagundes viu o grupo se apresentando e, mais tarde no camarim, classificou-o como "rock de galpão". Estava batizado.
Padrinhos
Por conta da agenda, Neto acabaria ficando de padrinho, atuando como convidado especial sempre que pode. Hique Gomez foi outro padrinho do Rock de Galpão, tendo dirigido dois DVDs.
De acordo com Tiago Ferraz, a banda sempre buscou a manutenção da tradição musical gaúcha; porém, seguindo por outro caminho, com outras opções de linguagem:
- Não só daquela maneira tradicional: também existem outras maneiras de apresentar a música. Não há uma regra estabelecida. A regra é gostar de tocar e cantar, fazendo isso de um jeito que se presta para as pessoas ouvirem.
No caso, o Rock de Galpão promove um repertório do "inconsciente coletivo", como define Ferraz. O músico lembra que, no começo, havia quem sentisse uma estranheza com o projeto. Como assim, misturar canção regionalista com rock? Segundo ele, as pessoas mudavam de ideia ao verem o show.
- Quando você enxerga e ouve que os caras estão ali de verdade, porque gostam, aí consegue entender que a arte é séria. Algumas pessoas no começo tinham esse melindre. E o Rio Grande do Sul é muito conservador, eu entendo isso. Só que eu tenho o meu jeito transgressor de ser, para o bem - diz Ferraz. - Tocamos isso porque nos agrada. É um exercício, uma maneira carinhosa de mostrar o nosso afeto pelas coisas feitas pelos poetas e compositores gaúchos.
Parceiros
O show no Renascença abre as comemorações dos 15 anos da banda. Conforme Ferraz, ainda estão previstas outras apresentações na Capital para celebrar a trajetória do Rock de Galpão, contando também com convidados.
Para o repertório de hoje, o grupo irá pincelar canções de cada trabalho, trazendo clássicos como Desgarrados, Vento Negro, Milonga para as Missões, Libertango, Eu Reconheço que Sou um Grosso e Amigo Punk, entre outras. Além disso, o Rock de Galpão deve trazer ao palco três canções autorais: Pachamama Soul e Tatá, ambas parcerias com o poeta Mario Pirata, e Mensageiro do Vento, do poeta Rafael Ovídio (Cabo Déco).
Ferraz destaca que a ideia é sair em turnê para comemorar os 15 anos até agosto do ano que vem. Mas, nesse meio tempo, o grupo deve entrar em estúdio para lapidar seu trabalho autoral. Ele adianta que deve trabalhar com parceiros como Luiz Coronel, Duca Leindecker, Érlon Péricles e Tulio Urach, além dos já citados Mario Pirata e Cabo Déco.
- É essa fórmula do Rock de Galpão que mistura tudo, só que com uma poesia inédita - garante Ferraz. - Vem um trabalho inédito e todo autoral para agregar ao show, que costuma focar na música regionalista de tempos passados.
WILLIAM MANSQUE
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